A educação para o amor constituía um dos principais pilares da paideia grega, modelo de formação greco-antigo que, por sua vez, é um berço da cultura educativa ocidental. Partindo do fato de que – especialmente no período pré-filosófico, mas não só – a paideia encontrou seu eixo formativo nas narrativas mítico-religiosas e considerando o fato do amor ser um dos temas mais relevantes à formação do bem viver humano que os mitos comunicavam, nosso estudo se dedica à leitura dessa tradição mitológica sobre o amor manifesta especialmente pela literatura hesiódica e homérica e, atualmente relidas por helenistas como Jean-Pierre Vernant e Viktor David Salis, cujas obras delineiam não só o(s) sentido(s) grego(s) do amor, como sua atualidade. Nesse sentido, haurindo aprofundar essa interseção entre o(s) sentido(s) antigo(s) e atual(is) do amor no Ocidente, propomos a análise da contemporânea concepção de amor líquido, cunhada por Zygmunt Bauman. O estudo mostrará que essa forma tipicamente contemporânea de amor é cada vez mais popular e descreve o atual fenômeno da fragilidade dos laços humanos, como reflexo da fluidez, desregulamentação e individualização dos vínculos relacionais, desde o nível sistêmico da esfera social aos níveis mais informais das relações interpessoais, algo que segundo Bauman é fomentado conforme signos típicos da economia, como a rotatividade e a eterna novidade, burocratizando sentidos relacionais que transcendem a materialidade da vida humana. Resulta dessa análise a conclusão de que o supramencionado cenário contemporâneo sintomatiza uma cultura de adoecimento da psyché (alma/mente), porque desaprendeu o profundo sentido da arte de amar, cara à paideia grega, que percepciona o ser humano como um ser humano integrado ao cosmos (universo) num movimento de promoção – e não de egóica exploração – do outro.