Na atualidade, a expansão da fronteira agrícola está pautada no uso de expressões como garantir os “índices de produtividade”, contribuir para “uma expansão das áreas de produção em áreas de fronteira agrícola”, atender o “aumento da demanda nacional e internacional de alimentos”(BRASIL, 2022). No entanto, apesar do aspecto neutro estas expressões carregam um conteúdo geopolítico e socioeconômico que precisam ser analisados. Basta lembrar que durante o século XX foram elaboradas propostas geopolíticas de ocupação das áreas de “baixa ocupação humana”, dos “vazios demográficos”, dos “espaços vazios” e/ou dos “espaços não integrados”, áreas distantes dos centros urbanos e marcadas pelo domínio de modos de produção não correspondentes à sociabilidade hegemônica do capital. A produção geopolítica brasileira do século XX revela um imaginário social pautado na ocupação, na exploração e na integração econômica dos espaços que não se enquadravam na lógica hegemônica de reprodução, ou seja, precisavam atender ao padrão de civilidade estabelecido e desempenhar uma função determinada pela divisão territorial do trabalho. O Brasil devido a sua posição inferior na geopolítica mundial e na divisão internacional do trabalho deveria ocupar tais espaços e torná-los rentáveis do ponto de vista capitalista para enfim tornar-se uma potência. Assim, a atual defesa de libertar o Mato Grosso da Amazônia Legal, expandir a fronteira agrícola, aproveitar a sua potencialidade econômica e contribuir para a balança comercial brasileira revela-se como um episódio tributário de um pensamento geopolítico que promove a ocupação dos “espaços vazios” como estratégia de desenvolvimento nacional e projeção internacional. A atual expansão das atividades agropecuárias em direção à Amazônia Legal pressiona a sustentabilidade de biomas e povos tradicionais que ocupam os espaços “vazios”, “não integrados”, “de expansão da fronteira agrícola, reforçam a dependência do Brasil ao colocá-lo como produtor de alimentos.