Povos ou comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, e que possuem formas particulares de organização social, reconhecidas pelo decreto federal 6.040/07, que lhes garante uma série de direitos específicos legais para manutenção do seu modo de vida tradicional e preservação de seus saberes ancestrais. Dentre essas prerrogativas está a proteção do seu território tradicional, como condição para reprodução de seu modo característico de vivenciar o espaço no qual estão inseridos. Os povos e comunidades tradicionais de terreiro são povos que cultuam tradições de matrizes africanas e afro-brasileiras, onde se pratica religiosidades advindas desses povos trazidos de África escravizados durante séculos no Brasil. Neste artigo, abordaremos análises teóricas sobre a categoria geográfica território, na perspectiva de autores como Rogério Haesbaert e Marcelo Lopes de Souza, aplicadas às comunidades tradicionais de terreiro enquanto povos e comunidades tradicionais, e abordaremos também o conceito de território religioso, oriundo da geografia da religião (uma das ramificações da geografia cultural), de forma a complementar o entendimento dos impactos da intolerância religiosa sobre esses grupos culturais específicos. Nosso recorte temporal foi estabelecido entre os anos de 2017 e 2020. Na segunda década do século XXI, observou-se em vários municípios do Rio de Janeiro, inclusive Campos dos Goytacazes, um aumento do número de ataques à terreiros de Candomblé e Umbanda, promovidos por grupos ligados ao tráfico de drogas que, de alguma forma, explicitavam também uma ligação com alguns grupos ligados a igrejas evangélicas em locais periféricos dos centros urbanos. Nosso objetivo aqui é investigar quais foram os impactos dessa modalidade de intolerância religiosa nos territórios das comunidades tradicionais de terreiros de Campos dos Goytacazes.