Com a emergência de uma urbanização a nível planetário (LEFEBVRE, 2002 [1970]), a noção de produção do espaço (LEFEBVRE, 2013 [1974]), emerge como importante categoria de compreensão de uma sociedade cada vez mais urbanizada. Nesse processo, com a fragmentação da atividade laboral, o local de moradia (do lugar, do vivido) ganhou grande relevância. É aqui, onde acreditamos ser possível enxergar com maior nitidez as contradições e as possibilidades não realizadas, os “resíduos”, as “irredutibilidades” (LEFEBVRE, 1991a) que reunidos poderão dar corpo à revolução. Carlos (2011) revela um novo modelo de produção do espaço, com certa centralidade na criação de áreas destinadas ao turismo e aos lazeres. Ao iniciarmos a nossa pesquisa no real, podemos observar tal situação ocorrendo na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Posto isto, sinalizamos que o nosso objetivo nessa empreitada é o de examinar como a situação relatada acima cria choques e conflitos com o cotidiano local. Através da perspectiva de ritmos espaço-temporais (LEFEBVRE, 2021), buscamos compreender como um cotidiano mais “lento” (SANTOS, 2006) dos “homens simples” (MARTINS, 2008) ou “ordinários” (CERTEAU, 1998), está sendo duramente invadido por espaço-temporalidades mais “rápidas”, ligadas ao grande capital. Ainda como um de nossos objetivos podemos destacar a investigação de uma perda de identidade local proporcionada pela aceleração do tempo embutida nas metamorfoses das formas, das funções, dos usos e modos de vida (CARLOS, 2015) no Porto Carioca.