Considerando o período da Baixa Idade Média (X-XV), nossa abordagem se deu sobre um pensador realmente singular: Dante Alighieri (1265-1321). Através da análise do texto da obra A Divina Comédia, de Dante, procuramos desvendar a estrutura cosmográfica do universo explorado pelas personagens, através de referências implícitas e/ou explícitas na obra. Nisso consideramos dois procedimentos: leitura e análise do texto da obra (em duas traduções para o português); revisão bibliográfica sobre o assunto: Kuhn (2017), Le Goff (2017), Baschet (2006), Eco (2013), Kimble (2005), Carvalho (2006), dentre outros(as). Na citada obra de Dante, segundo a literatura que consultamos, e conforme foi encontrado por nossa análise, duas grandes influências “desenham” a sua composição cosmográfica: uma, pela via do pensamento e da tradição cristãs medievais, se inscreve no que chamamos de Geografia do Além: o termo, cunhado por Le Goff (2017), se refere as estruturas, regiões e lugares que comportariam as almas após a morte. Por outra via, as diversas estruturas do além cantadas por Dante (Inferno, Purgatório e Paraíso ou Céu) se acomodam a uma revivida cosmologia antiga, que tinha por base Aristóteles (III a.C.) e Cláudio Ptolomeu (I-II d.C.). Em nosso entendimento, Dante teria realizado, assim, uma síntese cosmográfica, unindo o além cristão - além de outras simbologias geográficas medievais - para com a chamada cosmologia aristotélico-ptolomaica. Em Dante não devemos ver esses aspectos como separados, e isso expressa certamente não somente uma visão particular, mas também uma manifestação literária que se inspira na cosmologia de seu tempo.