Este estudo propõe compreender, a partir da literatura produzida por autores indígenas, o processo relacional entre sociedades de pequena escala e o território, considerando que “a floresta é inteligente, ela tem um pensamento”, frase enunciada sob perspectiva ontológica pelo xamã, Davi Kopenawa Yanomami, publicada no livro intitulado A Queda do Céu (2015). Possivelmente, assim como outros autores, intelectuais e artistas indígenas, a escrita do líder Yanomami tem permitido uma abertura para a compreensão das conexões com as territorialidades no cotidiano indígena. Metodologicamente, o tema será abordado na dimensão da Geografia Cultural , lançando mão da filosofia fenomenológica para compreender a percepção ambiental, o uso e apropriação do território pelos povos indígenas. Diante do exposto, procura-se responder a inquietação norteadora da pesquisa: como a emergência das visões de mundo na literatura indígena, na perspectiva vernacular do Bem Viver, permite o estudo geográfico da percepção ambiental? Neste sentido, o trabalho considera inicialmente que, para os povos indígenas, a natureza está cheia de espíritos, seres que são os verdadeiros donos da territorialidade ameríndia, geograficidades que, desta forma, constituem-se para além dos humanos: uma extraterritorialidade. Nossa hipótese é de que a relação imanente entre duas variáveis: cosmologia e percepção ambiental está demonstrada em obras autorais indígenas, pois há interesse nessa comunicação com o mundo dos não-indígenas a partir da literatura contemporânea. Busca demonstrar que está em curso uma possível geografia das epistemes espaciais indígenas que tem, em sua gênese, a perspectiva dos povos autóctones com suas narrativas telúricas, ancestrais e hiperfísicas.