O presente trabalho institui-se como um estudo investigativo da relação entre os textos de Friedrich Ratzel (1844-1904) e os processos de conformação da geografia brasileira e suas tendências teóricas e metodológicas. Quatro momentos despontam como fundamentais para elevar a compreensão de como a geografia nacional recebeu, relacionou-se e permanece interagindo com os textos do geógrafo alemão: o período de pré-institucionalização universitária, o de pós-institucionalização, o da apropriação colateral promovida por geopolíticos brasileiros e o período de ascendência da geografia crítica — época na qual os estigmas se consolidaram, sobretudo, a partir da produção de antologias pedagógicas sobre a história do pensamento geográfico. Assim sendo, o esforço empreendido foi, por: 1) sensibilizar em relação à complexidade interpretativa para com a sua malha conceitual, atentando para a importância de sua trajetória pessoal, profissional e ambiências políticas e sociais; 2) esmiuçar os trabalhos que contribuíram para erguer algumas rotulações reducionistas apregoadas ao autor e as circunstâncias acadêmicas, políticas e sociais da época; 3) evidenciar os prejuízos à geografia acarretados pelo reducionismo analítico nos estudos em História do Pensamento Geográfico. Verificou-se que apesar de ser rotulado como “clássico”, Friedrich Ratzel teve suas ideias vinculadas a um “complexo estigmatizante”, que, ao longo do trânsito das histórias interpretativas e expositivas, no âmbito da geografia nacional, fez com que ele fosse alçado à condição de autor canônico.