INTRODUÇÃO A busca por autonomia para (dos) os povos indígenas tem sido um desafio (um enfrentamento) de séculos de ocultamente, invisibilidades, etnocídio e a constante luta para garantir a ruptura com o pensamento-saber de ideias e práticas colonizadoras que atingem diretamente esses povos em todo o território brasileiro. Devido às constantes ideologias colonizadoras que segregam o saber-conhecimento dos povos originários é quase raro falar/abordar sobre uma epistemologia baseada na própria construção e visão indígena. Assim, salvam-se alguns autores contemporâneos indígenas como Airton Krenak e David Kopenawa, que embora não sejam da área geográfica, contribuem de maneira benevolente para pensar uma ciência que tenha ótica e fundamento na fala – prática – conhecimentos e na vivência desses povos. O artigo objetiva arquitetar aproximações geográficas do pensamento-saber indígena e a ciência geográfica, e também busca incansavelmente apontar varadouros para decolonizar a Geografia egocêntrica e os muitos modos insensíveis que esta tem em relação a ótica geográfica das pessoas indígenas. Mas também que desdobre um predicamento critico acerca das ideologias conservadoras sobre os povos indígenas. Como justificava, relatamos que é quase raro um geógrafo (a) indígena propor uma ideia com seu próprio pensar, no entanto, propomos neste resumo dar ênfase para agregar o conhecimento ocidental e abrir portas para o saber-conhecimento indígena. Para tanto, utilizamos das bases científicas como uma ponte vinculada ao pensamento indígena, que nos auxilie a reverter o conhecimento que há muito tempo tem sido colonizado. Diante destas questões, faze-nos lembrar que a Geografia precisa dá destaque aos saberes nativos rompendo o pensamento colonial. E entender que as diversas epistemologias têm muito a contribuir e construir parâmetros que ajude a pensar numa geografia indígena. METODOLOGIA A metodologia aplicada se deu com base em levantamentos bibliográficos, experiência de vida na aldeia e professora multidisciplinar na Terra Indígena Cabeceira do Rio Acre (AC), assim surgiu o título do resumo “Varadouros achados para decolonizar uma geografia”, este que tem como ideia o de descentralizar a geografia como antropocêntrica, de modo que evidencia o ser e o não-ser; mas também oportuniza para um diálogo intercultural, no sentido de reverter esta ciência colonial propagada de geração à geração como superior aos conhecimentos-saberes tradicionais de povos indígenas e povos tradicionais da/na Pan-Amazônia. Desta maneira, destacamos também que este resumo é parte da pesquisa de campo durante o ano de 2021 na aldeia Boa União – Cabeceira do Rio Acre (AC), onde busco responder perguntas da Tese da intitulada “REPITYAWAKLI HIMATKALETCHI MANXINERI CHINIKANTCHI GEOGRÁFICA NA PAN-AMAZÔNIA” (Contribuição do saber Manchineri para a Ciência Geográfica na Pan-Amazônia). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na perspectiva de relatar sobre essa construção que é quase inexistente em estudos das diversas epistemologias e sobretudo a temática dentro da Geografia, de maneira que dificulta uma construção interdisciplinar entre o pensamento-saber indígena e não indígena. Destacamos também que devido a mistificação da figura do ‘índio’ e a reprodução da colonialidade que são realidades presentes na sociedade brasileira e refletidas em muitos estudos que se referem aos povos tradicionais, é isso faz com que muitas ciências invisibilizem o conhecimento indígena como contribuinte em diversas áreas. Por essas questões dividimos essa discussão em quatro itens para construir o resumo e demos o subtítulo de VARADOUROS. O primeiro varadouro é a “Territorialidades e identidade do Coletivo Kawahib da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia: “Orevaki Are” (Reencontro) dos “Marcadores Territoriais”, de autoria do professor Adnilson de Almeida Silva, que marca um relevante diálogo intercultural, com isso dá voz-visibilidade à questão indígena como a terra, além disso discute e entende a complexidade de seus modos de vida; compreende suas territorialidades, assim como as implicações socioeconômicas, ambientais e culturais. Além disso, este varadouro é relevante, pois abraça as representações sociais dos coletivos indígenas, suas cosmogonias e simbologias que são elementos imprescindíveis para as abordagens da Geografia Cultural e decolonial, já que decorrem desses e outros fatores que são cruciais para o entendimento não somente das identidades e territorialidades, mas também da epistemologia indígena. Já o segundo ocorreu durante exibições de programas do Globo Rural sob o título de “Índios do Peru influenciaram o cultivo de palmito no Brasil”, o qual trouxe vários assuntos e contribuições dos povos indígenas para a culinária não somente brasileira, mas na América do sul. Uma delas foi a domesticação da mandioca, e a outra é a domesticação do guaraná. Sabe-se que tanto a mandioca como o guaraná são parte integrante do alimentar cultural dos povos originários. A mandioca é consumida junto com peixe ou carne de animais silvestres, e servida também como bebida; o guaraná por sua vez é servido tradicionalmente em pó por alguns povos, como os Sateré-Mawé, mas que se tornou um refrigerante regional e nacional. Mas afinal o que conecta esta questão com um caminho para decolonizar a geografia? Deve-se levar em consideração o fato de esses dois derivados indígenas terem ligação com sazonalidade, com a temporalidade, com a região, terra, meio ambiente e sobretudo com o conhecimento-saber indígena, e que só evidencia que este é um caminho para decolonizar a Geografia com sua própria ótica, de modo que prova, que esse saber integra a ciência indígena, e sem esta, muitos derivados de hoje no Brasil provavelmente não seriam conhecidos e consumidos. Portanto, esses aspectos serão consolidados de diversos modos e que pode ser aplicado em questões como as lógicas de plantas culturais utilizados na medicina indígena, como é o caso da Patxa do Povo Manchineri para a cura de gastrite. O terceiro é baseado na entrevista “Genocídio e resgate dos “Botocudo’”, realizada com o indígena e filósofo Airton Krenak, que apresenta uma discussão sobre a ancestralidade territorial desse povo, sua ocupação e seu modo de vida, que se conecta com a discussão da proposta. Esse debate se faz oportuno, pois mostra a história do esgotamento das minas, no atual estado de Minas Gerais, no fim do século XVIII, que ocasionou a devastação e exploração da Mata Atlântica e contribuiu para o extermínio dos “botocudos”, que enfrentavam os colonizadores. Naquele momento houve, portanto, o genocídio dos indígenas, que passaremos a denominar como etnocídio. Atualmente, os mais diversos povos indígenas se renascem e se fortalecem; exigem respeito pela sua identidade étnica e o atendimento de suas necessidades. No entanto em linhas gerais, essa entrevista mostra o quão o conhecimento e história dos povos indígenas foram e são invisibilizadas, marginalizadas e deixadas ao genocídio étnico e cultural, no qual muitos saberes foram perdidos devido ao processo de colonização, à invasão de suas terras ancestrais/tradicionais, enfim quase que completamente dizimados com as epidemias trazidas pelos “brancos”. Esse achado contempla a parte que abordaremos sobre um breve histórico de ocupação dos povos na Pan-Amazônia e sua contribuição na constituição do atual território brasileiro que há séculos tem sido antagonista nos livros, nos contos brasileiros e nas realidades impostas aos povos originários. E por último os estudos do indígena e liderança Davi Kopenawa Yanomami, em seu livro a “Queda do céu: palavras de um xãma Yanomami”, que apesar de não ser geográfico faz uma análise, de grande utilidade didática e saber de como abordar os conhecimentos desses povos em relação aos animais e as plantas, embora muitos não sabem, os indígenas concebem que todos os seres vivos ou não-seres possuem espírito que proporcionam vida para cura e sobrevivência da humanidade; este estudo também descreve as características monstruosas da civilização ocidental como um todo e de prever um futuro funesto para o Planeta, mas, de um modo muito especial, ele fala e dirige as pessoas não indígenas, aos brasileiros que não se consideram “índios” (KOPENAWA, 2015, p.11). O autor deixa claro que os povos indígenas precisam ser ouvidos, que todos precisam ouvir o meio ambiente, a floresta e os animais. Assim como Kopenawa, a Geografia precisa entender que o mundo necessita produzir e entender o saber que é gerado da/na floresta para ter um bem-viver humano e em seu modo de vida. Neste caso, foi mais um ponto na construção do artigo, a reação do ser humano com os seres da floresta, no sentido que o primeiro precisa também aprender a se comunicar com o segundo, ou seja, dar a devida importância ao meio ambiente para as futuras gerações. Destacamos ainda que os varadouros foram estimados como ótica para decolonizar a Geografia, e poder mostrar que os saberes indígenas são um caminho que pode e contribuem com a ciência em geral, e especial a geográfica, seja no conhecimento empírico, como no conhecimento ancestral dos povos originários, e estes sempre estiveram presentes no dia-a-dia desde a “ocupação” da Amazônia. CONSIDERAÇÕES FINAIS Busca-se incansavelmente construir estudos sob a ótica dos povos indígenas, como também descentralizar a visão arcaica de que as pessoas indígenas não têm nada a construir com as ciências, pelo contrário são conhecedores dos primórdios da natureza humana e ambiental, mas também preservadores da terra como mãe. Diante das questões devemos dar oportunidade de se aprofundar sobre assuntos antes desconhecidos e percorrer caminhos que criam pontes para a construção de uma Geografia decolonial. Além disso, devemos dar visão à uma geografia que abrange e respeita a visão de povos indígenas e tradicionais, que inicialmente pode exigir uma aprendizagem sobre as concepções das bases do pensamento transdisciplinar, que os envolve, mas que cada um possa ter informação sobre diferentes realidades, como aumentar assim uma bagagem e incentivo de pensar, criticar e interpretar a realidade a partir desse aprendizado com um olhar minucioso. Acreditamos que é preciso que muitos devem transitar entre a experiência dos saberes e das diferentes realidades brasileiras. Esse caminho é o início para uma Geografia aberta, sem pontos colonizadores, mas interdisciplinar e que abrace as diferentes visões e percepções de mundos, de povos e de culturas, com o devido respeito ao modo de vida de cada ser.