O objetivo do trabalho é apresentar o resultado de uma pesquisa sobre o programa Reviver Centro, criado pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. O programa estabelece incentivos para a construção de unidades habitacionais e a conversão de escritórios para uso residencial mediante operações de retrofit. Isto amparado por uma legislação amplamente favorável para investidores do ramo imobiliário, flexibilizando normas edilícias e regras de uso e ocupação do solo. Autoriza ainda a realização de operações interligadas, garantindo a investidores que atuarem no perímetro do programa vantagens construtivas em empreendimentos em áreas valorizadas das zonas Sul e Norte da cidade, por meio de pagamento de contrapartida financeira ao município. Entre os anos de 2021 e 2023, o Reviver Centro licenciou 1975 unidades habitacionais. Trata-se de um ponto de inflexão da evolução urbana, com transformações significativas do ambiente construído da área central carioca – pela refuncionalização espacial e ocupação de vazios urbanos existentes – e sua reconfiguração socioespacial – pelo readensamento demográfico e mudança do perfil de renda da população residente. A solução do poder público de buscar uma refuncionalização da área central inspira inúmeras reflexões sobre o formato de governança, a aplicação de instrumentos urbanísticos selecionados e os produtos imobiliários decorrentes. As impressões iniciais são de que o Reviver Centro reproduz um padrão de produção do espaço urbano que contém um déficit democrático, em especial por não comportar os instrumentos necessários que garantam a permanência no local de populações vulneráveis, que até o momento não se mostraram atendidas pelo programa.