O ensino das atividades circenses na Educação Física escolar representa uma possibilidade aventada a partir da década de 1990 por professores, pesquisadores e gestores. Desde então, a produção bibliográfica aumentou consideravelmente permitindo observar que se trata de um tema presente na realidade de muitas escolas públicas e privadas, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Porém, ainda há desafios à incorporação do ensino das atividades circenses, principalmente como componente curricular. Destarte, questionamos: por que os professores não ensinam as atividades circenses nas aulas de Educação Física? Assim, o objetivo é analisar os discursos dos professores que não ensinam as atividades circenses na Educação Física escolar. Baseado no paradigma qualitativo, usamos a Amostragem por Cadeia de Referências ou “Método Bola de Neve” para alcançar informantes para a pesquisa, isto é, os próprios sujeitos indicam outros informantes para participar do estudo. O instrumento de pesquisa foi um questionário online respondido por 205 docentes de todo o Brasil. Desse total, 25,4% dos participantes (n=51) declararam não ensinar atividades circenses na escola. Desses 51 docentes, 76,5% (n=39) alegou “não me sinto seguro(a) e/ou confiante para ensinar”, 54,9% (n=28) indicou a “falta de materiais de circo na escola”, 27,4% (n=14) declarou a “falta de apoio institucional (da escola)”, 35,3% (n=18) apontou que “o circo não faz parte da proposta curricular”, 15,7% (n=8) citou “outros motivos” e 13,8 (n=7) preferiu não responder. Os resultados coadunam com a literatura ao apontar limitações e desafios ao ensino das atividades circenses na escola. As limitações consubstanciam o discurso da impossibilidade salientando resistências ao ensino do Circo na Educação Básica. Não se trata aqui de negligenciar as limitações de ordem didático-pedagógica, de estrutura física e recursos, a falta de apoio e suporte da gestão escolar e as carências na formação docente, pois, de fato, são desafios hercúleos. Porém, após uma análise pormenorizada parece-nos que essa narrativa não se sustenta, dado que a literatura e os discursos de colegas docentes apontam ações que de forma corajosa, engajada e responsável têm enfrentado os desafios e criado alternativas para o ensino das atividades circenses em suas aulas, quase sempre apontando caminhos para uma inovação pedagógica e curricular da Educação Física escolar. Novamente, não se trata de negar os desafios, mas identificá-los, pensar alternativas e criar soluções. Neste sentido, o estudo sugere que a falta de perspectiva docente com a área, com a escola e com a busca de uma sociedade mais sensível à arte circense pode ser o maior desafio ao ensino curricular das atividades circenses. Por fim, entendemos que é por meio do diálogo colaborativo com professores, considerando as particularidades do “chão da escola” que vislumbramos uma Educação Física que efetivamente atue para o ensino das atividades circenses no contexto da Educação Básica.