Com a recente polêmica entre o embargo feminista à canção Com açúcar e com afeto de Chico Buarque e a decisão do compositor em excluí-la do seu repertório, alguns questionamentos permanecem expostos quando se trata da representação da mulher na música popular brasileira. Essa discussão, muitas vezes, enquadra a representação em viés sócio-histórico ou destaca sua necessidade como um traço da criação artística, igualmente situada em uma ampla tradição. Nesse sentido, é notório perceber que, embora o tom reivindicatório feminino tenha orientado o surgimento de outras representações sobre o feminino, ainda ressoa a tradição falocêntrica no imaginário social, facilmente capturado pelas composições musicais na MPB. Dessa forma, propomos, elaborar possíveis interpretativos de canções que remetem à temática a violência contra a mulher, buscando compreender como os imaginários sociais são construídos por diferentes sujeitos. Para tanto, selecionamos 6 canções: Mônica (1985), 2 de junho (2021) e Dói (2018), todas de autoria feminina. Além da crítica feminista fundamentada nos trabalhos de Safiotti (1986) e Rago (1992), Mary Del Priore (2021), recorremos também às contribuições de Stuart Hall (2000) sobre identidade e diferença; aos estudos de Lipovetski (2000) e Bourdieu (2021) sobre o feminino e à crítica musical nas pesquisas de Santa Cruz (1992), Murgel ((2017), entre outros. Observamos assim, que na longa tradição da música popular brasileira, os imaginários sobre a violência contra a mulher são projetados no discurso de modo conflitante, o que tem a ver não só com a ideia de um novo feminino, mas também com as práticas sociais dessa construção.