A obra de Paulo Freire tem sido alvo de disputas acadêmicas, desde a publicação de seus livros que se tornaram mais reconhecidos. Contudo, nos últimos anos, essas disputas têm ocorrido também na sociedade mais ampla, ainda que emolduradas, em geral, pela ausência da leitura do autor e pela ratificação de leituras políticas dicotomizadas. Isso termina por mobilizar argumentos sem profundidade de determinadas ideias circulantes a favor ou contra o educador. Este trabalho faz um balanço dos principais temas encontrados no legado freireano e das perspectivas contrárias que questionam o lugar do papel desse autor na educação brasileira. Para tanto, trabalhamos teoricamente com a noção de campo científico de Pierre Bourdieu. Realizamos uma pesquisa bibliográfica em capítulos de livros e artigos de periódicos, publicados, na realidade brasileira, desde o ano 1990, tendo por base metodologicamente as leituras propostas por Gil (2005): exploratória, seletiva, analítica e interpretativa. Consideramos para a análise do legado freireano os seguintes grandes temas interrelacionados, recorrentemente apontados e questionados: a) educação adultos e educação popular; b) profissionalização docente; c) políticas públicas e currículo; d) teoria educacional e pedagogia. Concluímos que as produções mais atentas ao legado aprofundam algumas dessas temáticas elencadas, de um ponto de vista propositivo e prospectivo, procurando verificar os desdobramentos na educação brasileira. Em geral, as produções, mais recentes, que questionam o legado freireano, discutem a partir de ideias mais gerais vinculadas às “políticas de esquerda”, diferentemente da crítica que se erigiu, na década de 1990, mais fundamentada teoricamente, sobretudo no tocante à profissionalização docente e o gênero da docência.