Uma das formas mais correntes em sociedades de fluxo migratório intenso de marcar diferença negativa é por meio da estigmatização, reforçando estereótipos. As estigmatizações estereotípicas são comuns nos casos de discriminação por racialização. Tivemos por objetivo mapear as estigmatizações e reconhecer padrões nas estratégias, tanto sociológicas quanto linguísticas, usadas para discriminar negativamente os não nacionais em instituições de Ensino Superior portuguesas. Para desenvolver a análise, lançamos mão de metodologias qualitativas como entrevista narrativa episódica em profundidade, com recurso à análise temática não tradicional, incluindo a interpretação dos jogos de poder e dos jogos de linguagem presentes nas teorias da construção do comportamento e do construcionismo social. Foram encontrados seis tipos recorrentes de estigmatizações: (i) africanos/brasileiros são animais/selvagens; (ii) africanos e brasileiros são menos inteligentes; (iii) africanos e brasileiros podem ser bandidos e/ou vagabundos; (iv) as mulheres africanas e as brasileiras são prostitutas; (v) africanos e brasileiros trabalham em postos precários e mal remunerados de trabalho e (vi) os/as afrodescendentes representam todo o povo africano quando erram. Esse resultado assevera a contraparte da racialização dos diferentes e mostra como as estigmatizações são modos de ação de grupos já consolidados (established) que terminam por empurrar grupos recém-chegados (outsiders) para as margens. Esses modos mobilizam a racialização, a territorialização e aculturação, mormente por não partilharem o estatuto de nacional em Portugal, país de grande fluxo migratório e de acolhimento de brasileiros e africanos, nomeadamente para estudo.