RESUMO: Ministrando aulas de Educação Física, observamos como meninos e meninas constroem as relações de gênero e, particularmente, destacamos que um dos principais motivos de conflitos entre meninas e meninos são as exclusões em jogos esportivos. De um lado, os meninos excluíam as meninas de certos jogos por considerarem que eram fracas e menos habilidosas. O conceito de gênero também permite pensar nas diferenças sem transformá-las em desigualdades, ou seja, sem que as diferenças sejam ponto de partida para a discriminação, por sua vez é a função educativa dada pela escola, que oferecerá à criança e ao adolescente um seguro desenvolvimento bio-psico-social e sexual, dentro de uma análise de opções para tornar apta a escolha de novos caminhos. A escola é uma das instituições nas quais se instalam mecanismos do dispositivo da sexualidade, através de tecnologias do sexo, os corpos dos estudantes podem ser controlados, administrados. Como afirma (BERNARDI, 1985), a escola é uma entre as múltiplas instâncias sociais que exercitam uma pedagogia da sexualidade e do gênero, colocando em ação várias tecnologias de governo. Diante da escola ser uma das instituições onde se instalam os mecanismos do dispositivo da sexualidade, há de se questionar como isto ocorre. De que maneira a sexualidade e os conflitos de gênero perpassa o espaço escolar, penetra na Educação Física, disseminando micropoderes sobre os corpos? O objetivo principal desta pesquisa é analisar os conflitos de gêneros nas aulas de educação física, considerando as percepções de alunos. Identificando as concepções de masculino e feminino dos alunos. Analisando as possíveis causas que levam os alunos a assumir preconceitos e tabus, com seus colegas, dentro das aulas de educação física e promovendo a participação dos alunos em atividades mistas e assegurar mudança de atitudes em conflitos de gêneros surgidos nas aulas de educação física. Trata-se de um pesquisa com abordagem qualitativa e com observação participativa por se tratar de descrição de fenômeno. Pois esta ainda se encontra em andamento. Adotamos a pesquisa-ação que representa uma reflexão crítica sobre e nos discursos dos sujeitos, um processo pessoal e único do pesquisador em ação de reconstrução racional. A população alvo deste estudo será constituída de 100 crianças e adolescentes na faixa etária de 10 a 18 anos de ambos os sexos, matriculados dos 6º aos 9º anos (ensino fundamental) e dos 3º anos (ensino médio) que são meus alunos na disciplina de Educação Física da escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio João Ribeiro do Município de Gurinhém, na Paraíba. Para a composição da amostra, será utilizado um procedimento não probabilístico.Está sendo utilizada para coleta de dado, uma entrevista semi-estruturada através de um gravador de voz, levantando os seguintes blocos de conteúdo: corporalidade, sexualidade, gênero. Também será realizada uma observação participativa nas aulas de educação física, bem como de uma intervenção com uma metodologia que envolverá aulas mistas (meninos e meninas), informando sobre a sexualidade e outros temas geradores de tabus, discriminações e preconceitos, para uma possível mudança desses estereótipos. Visto que este estudo ainda se encontra em andamento, não temos um resultado concretizado, mas temos alguns parciais: Existe ainda uma dificuldade grande em se trabalhar a questão do gênero na escola. Devido a um histórico de realizar as aulas em separado, meninos e meninas. Neste grupo estudado, por exemplo, os alunos nunca haviam participado de aulas mistas, sem falar de mais da metade nem participa, por morar nos sítios já que as aulas de Educação Física ocorriam em período contrário ao dos demais componentes curriculares e também eram separadas por gênero pelo outro professor, foram observadas as aulas durante um périodo de quarenta dias, bem como as realizações das intervenções. Mesmo ocorrendo inibição entre eles [meninos e meninas], essa “coeducação” tem proporcionado maior socialização. Os meninos geralmente pensam que as meninas não são capazes ou habilidosas para os esportes; a participação conjunta tem colaborado para a desmistificação deste conceito, sendo que houve casos de meninas em muito superiores a eles. Existem meninos que não gostam de atividades que exigem força e vice-versa. Algumas meninas que gostam e jogam muito bem futebol e interagem muito bem. Jogos cooperativos também têm bom resultado. Esses exemplos ajudam a desconstruir uma imagem da incapacidade ou menor habilidade feminina para as práticas esportivas e de que todos os meninos são necessariamente hábeis para qualquer tipo de atividade física. Achamos necessário acrescentar uma segunda intervenção devido a ausência de muitos alunos, por morarem nos sítios distantes e não ter veículos para se deslocarem para as aulas de educação física. Incrementamos então a intervenção de “exergames” com o intuito de resgatar estes alunos para as aulas práticas, visto que jogos em que são utilizados os movimentos do jogador, como os do Nintendo Wii, e Xbox-kinect por exemplo, pois assim os jogadores podem exercitar o corpo, a mente e ao mesmo tempo se divertir, o que torna a ação um hábito mais frequente. E como em qualquer jogo culturalmente criado, não poderia fugir do desdobramento de categorias, de possuir jogos mais voltados para o público masculino e jogos mais voltados para o público feminino. E a partir da desconstrução deste paradigma, invertemos tais situações, em que os jogos com danças seriam realizados pelos meninos e os de lutas pelas meninas, bem como utilizavam a inverção do “avatar” que é um cibercorpo inteiramente digital, uma figura gráfica de complexidade variada (menino ou menina) que empresta sua vida simulada para o transporte identificatório de cibernautas para dentro dos mundos paralelos do ciberespaço, que funciona com a execução dos nossos próprios movimentos humanos através do kinect, outros, principalmente os meninos não queriam jogar com o “avatar” de uma menina. A experiência nova ajudou a desmistificar o preconceito de se jogar com um “personagem oposto ao seu gênero”, pois nenhum deles já tinha participado de semelhante atividade. E no que se refere às alterações de regras nos jogos, embora válidas, de modo a democratizar a participação de todos, há de se ter atenção para que as dificuldades das meninas não sejam ainda mais visibilizadas ou que outros menos habilidosos continuem excluídos da prática.A pesquisa vem mostrando então a necessidade de que a escola reflita e coloque nas suas prioridades estratégias para o enfrentamento das diferenças de gênero que deverão ir além do processo de capacitação, sem dúvida fundamental, mas por si só insuficiente. A partir dos dados analisados, pensamos que é necessário também discutir as metodologias educativas utilizadas nas capacitações, a transversalidade do ensino da sexualidade, a inclusão dos temas de direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos e diversidade sexual, mas sobretudo, é necessário aprofundar a reflexão sobre o modelo de educação atualmente existente nas escolas.