Artigo Anais do VIII ENALIC

ANAIS de Evento

ISSN: 2526-3234

A MÚSICA COMO POTÊNCIA NA/PELA INTERCULTURALIDADE DE SURDOS E OUVINTES EM UMA SALA DE AULA REGULAR

Palavra-chaves: EDUCAÇÃO, INTERCULTURALIDADE, MÚSICA, SURDOS, OUVINTES Comunicação Oral (CO) ET 06: Cidadania, Direitos Humanos e Interculturalidade
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      A MÚSICA COMO POTÊNCIA NA/PELA INTERCULTURALIDADE \r\n
      DE SURDOS E OUVINTES EM UMA SALA DE AULA REGULAR
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      MÚSICA PARA SURDOS? ESTE QUESTIONAMENTO CAUSA ESTRANHAMENTO QUANDO SE TRATA DE SUJEITOS SURDOS. A \r\n
      MÚSICA ESTÁ ATRELADA À IDEIA HEGEMÔNICA DE QUE SÓ PODE SER SENTIDA E OUVIDA PELO ÓRGÃO AUDITIVO. ALIADO \r\n
      A ISSO, AO LONGO DOS ANOS, OS SURDOS FORAM E CONTINUAM SENDO ASSUJEITADOS PELA DEFICIÊNCIA AUDITIVA, OU \r\n
      SEJA, PELA FALTA E IMPEDIMENTO DE ALGO. SEGUNDO PAULA E PEDERIVA (2018, P. 65), “FALAR E PENSAR A MÚSICA \r\n
      PARA ALÉM DO OUVIDO ABRE UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENDERMOS, COM AS PESSOAS SURDAS, COMO ESSE \r\n
      PROCESSO ACONTECE. AO DESVINCULARMOS A MÚSICA DA ORELHA, SURGE UM NOVO CAMINHO, UM OLHAR PARA ESSE \r\n
      SENTIDO DO OUVIR, POIS TUDO TEM SOM E TODAS ESSAS COISAS O SURDO PODE VER E PERCEBER”. NESSE SENTIDO, A \r\n
      PROPOSTA DESTE ARTIGO É PENSAR COMO A MÚSICA PODE SER UM ARTEFATO RIQUÍSSIMO DE POSSIBILIDADES PARA SER \r\n
      EXPLORADO NA SALA DE AULA REGULAR, ENTRE SURDOS E OUVINTES, LEVANDO EM CONTA PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE \r\n
      VENHAM A CONTRIBUIR COM UMA EDUCAÇÃO NA/PELA INTERCULTURALIDADE E QUE POSSAM TRANSGREDIR AOS \r\n
      ASSUJEITAMENTOS DO SURDO COMO INCAPAZ DE SENTIR E VIVENCIAR A MÚSICA. A EDUCAÇÃO NA/PELA \r\n
      INTERCULTURALIDADE PRESSUPÕE UMA ATITUDE DE ABERTURA DO SER HUMANO AO OUTRO, “NÃO COMO CONCEITO MAS \r\n
      COMO AÇÃO, MOVIMENTO” (MENEZES, 2008, P. 8). ESTE OUTRO, SEGUNDO SILVA (2000, P. 9), PRECISA SER \r\n
      VISTO COMO OUTRIDADE: “DEIXAR SER UMA OUTRIDADE QUE NÃO É OUTRA ‘RELATIVAMENTE A MIM’ OU \r\n
      ‘RELATIVAMENTE AO MESMO’, MAS QUE É ABSOLUTAMENTE DIFERENTE, SEM RELAÇÃO ALGUMA COM A IDENTIDADE OU \r\n
      COM A MESMIDADE”. DIANTE DISSO, QUANDO ENTENDEMOS A EDUCAÇÃO PELO VIÉS INTERCULTURAL, NOS AFASTAMOS \r\n
      “DE UMA PERSPECTIVA HOMOGENEIZADORA DA CULTURA E DOS SUJEITOS, RENUNCIANDO A UMA EDUCAÇÃO BASEADA \r\n
      E ESTRUTURADA EM TORNO DE UM ÚNICO MODELO DE CULTURA E DE SUJEITO” (MENEZES, 2008, P. 8). DESSA \r\n
      FORMA, A PRESENÇA DE SURDOS E OUVINTES NA SALA DE AULA REGULAR PASSA A SER VISTA COMO UMA DINÂMICA \r\n
      MÚLTIPLA, HÍBRIDA, FRONTEIRIÇA, SENDO ESSENCIAL QUE AS RELAÇÕES E AS PRODUÇÕES DE CONHECIMENTO SEJAM \r\n
      PENSADAS PELA INTERCULTURALIDADE, QUE É TAMBÉM UM PROJETO PARA A CONSTRUÇÃO DE MODOS “OUTROS” DE \r\n
      SABER, SER E CONVIVER, AO “ASSINALAR A NECESSIDADE DE VISIBILIZAR, ENFRENTAR E TRANSFORMAR AS ESTRUTURAS E \r\n
      INSTITUIÇÕES QUE DIFERENCIALMENTE POSICIONAM GRUPOS, PRÁTICAS E PENSAMENTOS DENTRO DE UMA ORDEM E \r\n
      LÓGICA” (WALSH, 2009, P. 24). EM VISTA DISSO, APRESENTAMOS, NESTE ARTIGO, EXPERIMENTAÇÕES COM A \r\n
      MÚSICA JUNTO A SURDOS E OUVINTES EM UMA ESCOLA REGULAR, ANALISANDO O QUANTO PODEM SER POTENTES PARA \r\n
      PROMOVER UMA EDUCAÇÃO NA/PELA INTERCULTURALIDADE, COM VISTAS A PRODUZIR OLHARES E RELAÇÕES OUTRAS COM \r\n
      O SURDO PELO VIÉS DA DIFERENÇA CULTURAL. PARA TAL ANÁLISE, FILIAMO-NOS AO CAMPO DOS ESTUDOS CULTURAIS EM \r\n
      EDUCAÇÃO, UMA VEZ QUE PROCURAMOS COMPREENDER AS PRODUÇÕES DOS SUJEITOS PELA LÓGICA DA INVENÇÃO, \r\n
      SENDO ELES PRODUTOS DE UMA PRÁTICA DISCURSIVA. “A CULTURA É UM CAMPO DE PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS NO \r\n
      QUAL OS DIFERENTES GRUPOS SOCIAIS, SITUADOS EM POSIÇÕES DIFERENCIADAS DE PODER, LUTAM PELA IMPOSIÇÃO DE \r\n
      SEUS SIGNIFICADOS À SOCIEDADE MAIS AMPLA” (SILVA, 2011, P. 134). POR ESSE VIÉS, A CULTURA NÃO É \r\n
      COMPREENDIDA COMO HERANÇA, MAS SIM COMO ALGO PRODUZIDO NAS RELAÇÕES E NAS EXPERIÊNCIAS DE VIDA. \r\n
      TAMBÉM APOIAMO-NOS NOS ESTUDOS SURDOS PARA PROBLEMATIZAR A PRODUÇÃO DA SURDEZ, ENTENDIDA COMO \r\n
      DIFERENÇA CULTURAL E LINGUÍSTICA. ESSES ESTUDOS SÃO PENSADOS COMO UM TERRITÓRIO DE PESQUISAS E POLÍTICAS\r\n
      QUE VIABILIZAM QUE OS SURDOS ESTEJAM INSERIDOS NUMA COMUNIDADE, COM IDENTIDADES E CONDIÇÕES \r\n
      LINGUÍSTICAS E CULTURAIS DIFERENTES DOS OUVINTES. AINDA, NOSSA ALIANÇA TEÓRICO-METODOLÓGICA ESTÁ VOLTADA \r\n
      À PERSPECTIVA PÓS-ESTRUTURALISTA, UMA VEZ QUE PERMITE OLHAR O MUNDO SEM UMA VERDADE ÚNICA OU SEM \r\n
      UMA FORMA PRIVILEGIADA DE ANALISÁ-LO (VEIGA-NETO, 2001), E SIM COMO UMA PORTA ABERTA À \r\n
      PROBLEMATIZAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES, DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE NOS SÃO DADAS COMO VERDADEIRAS E \r\n
      ESTÃO TÃO NATURALIZADAS NO CENÁRIO EDUCACIONAL. OS ESTUDOS INICIAIS SOBRE A MÚSICA FORAM MOBILIZADOS \r\n
      PELA PROBLEMATIZAÇÃO E PELO MOVIMENTO INTERCULTURAL PARA/COM O OUTRO. O GRUPO DE ESTUDANTES OUVINTES \r\n
      SE PERGUNTAVA COMO O COLEGA SURDO SENTIA E VIVIA A MÚSICA E, A PARTIR DISSO, DESEJOU TORNAR INCLUSIVAS AS \r\n
      APRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS DA ESCOLA. EM UMA DOCÊNCIA COMPARTILHADA ENTRE PROFESSORA E INTÉRPRETE, \r\n
      INICIARAM-SE EXPERIMENTAÇÕES COM A MÚSICA PELO VIÉS DA CULTURA SURDA, CONHECENDO, ATRAVÉS DO \r\n
      YOUTUBE, INTERPRETAÇÕES EM LIBRAS DESENVOLVIDAS PELA COMUNIDADE SURDA. TAMBÉM BUSCOU-SE \r\n
      DISCUTIR COM OS ESTUDANTES A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA MUSICAL NESSA RELAÇÃO INTERCULTURAL ENTRE SURDOS \r\n
      E OUVINTES A PARTIR DA EXPLORAÇÃO DO FILME “A FAMÍLIA BÉLIER” (2014). EM SEGUIDA, AS ESTRATÉGIAS DE \r\n
      ENSINO E DE APRENDIZAGEM UTILIZADAS CONTEMPLARAM A SELEÇÃO DE MÚSICAS CONFORME O GOSTO MUSICAL DOS \r\n
      GRUPOS E O POSTERIOR ESTUDO DA INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS. ESTE TRABALHO RESULTOU EM APRESENTAÇÕES \r\n
      ARTÍSTICAS E TAMBÉM NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS QUE FORAM COMPARTILHADOS NA ESCOLA. FOI POSSÍVEL \r\n
      EXPERIMENTAR A MÚSICA PARA ALÉM DO UNIVERSO SONORO, COMO UMA ARTE CAPAZ DE REUNIR OUTROS SENTIDOS, \r\n
      RECONHECENDO O CORPO COMO PRODUTOR DE SENTIDOS E SIGNIFICADOS JUNTO A LIBRAS. TAIS EXPERIMENTAÇÕES \r\n
      FORAM SIGNIFICATIVAS POR PROMOVEREM A INTERCULTURALIDADE ENTRE SURDOS E OUVINTES, MOSTRANDO O QUANTO \r\n
      A SURDEZ NÃO PODE SER VISTA COMO FALTA OU IMPEDIMENTO DE ALGO, MAS COMO UMA DIFERENÇA CULTURAL. OUTRAS \r\n
      CONTRIBUIÇÕES ENRIQUECEDORAS QUE PUDERAM SER VIVENCIADAS ATRAVÉS DE PRÁTICAS BILÍNGUES FORAM A \r\n
      COMPREENSÃO DAS MÚSICAS ESCOLHIDAS EM AMBAS AS LÍNGUAS, A AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO EM LIBRAS, O \r\n
      CONHECIMENTO SOBRE A GLOSA (ESCRITA DO PORTUGUÊS NA INTERPRETAÇÃO DA LIBRAS) E O EXERCÍCIO DA \r\n
      INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA. AINDA, EM TODAS AS SITUAÇÕES DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM, FOI POSSÍVEL OPERAR \r\n
      A COOPERAÇÃO, REFORÇANDO A EDUCAÇÃO NA/PELA CONSTRUÇÃO COLETIVA, PELO SER/FAZER COM. POR FIM, O ARTIGO \r\n
      PROBLEMATIZA, A PARTIR DOS APRENDIZADOS ADQUIRIDOS COM A MÚSICA EM UMA SALA DE AULA REGULAR, A \r\n
      NECESSIDADE DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE FORTALEÇAM UMA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL ENTRE SURDOS E OUVINTES \r\n
      E, POR CONSEGUINTE, CORROBORA UM PENSAR E UM FAZER PEDAGÓGICO DE QUE A MÚSICA PODE SER PRODUZIDA E \r\n
      VIVENCIADA POR TODOS OS SUJEITOS.
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Publicado em 06 de abril de 2022

Resumo

MÚSICA PARA SURDOS? ESTE QUESTIONAMENTO CAUSA ESTRANHAMENTO QUANDO SE TRATA DE SUJEITOS SURDOS. A MÚSICA ESTÁ ATRELADA À IDEIA HEGEMÔNICA DE QUE SÓ PODE SER SENTIDA E OUVIDA PELO ÓRGÃO AUDITIVO. ALIADO A ISSO, AO LONGO DOS ANOS, OS SURDOS FORAM E CONTINUAM SENDO ASSUJEITADOS PELA DEFICIÊNCIA AUDITIVA, OU SEJA, PELA FALTA E IMPEDIMENTO DE ALGO. SEGUNDO PAULA E PEDERIVA (2018, P. 65), “FALAR E PENSAR A MÚSICA PARA ALÉM DO OUVIDO ABRE UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENDERMOS, COM AS PESSOAS SURDAS, COMO ESSE PROCESSO ACONTECE. AO DESVINCULARMOS A MÚSICA DA ORELHA, SURGE UM NOVO CAMINHO, UM OLHAR PARA ESSE SENTIDO DO OUVIR, POIS TUDO TEM SOM E TODAS ESSAS COISAS O SURDO PODE VER E PERCEBER”. NESSE SENTIDO, A PROPOSTA DESTE ARTIGO É PENSAR COMO A MÚSICA PODE SER UM ARTEFATO RIQUÍSSIMO DE POSSIBILIDADES PARA SER EXPLORADO NA SALA DE AULA REGULAR, ENTRE SURDOS E OUVINTES, LEVANDO EM CONTA PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE VENHAM A CONTRIBUIR COM UMA EDUCAÇÃO NA/PELA INTERCULTURALIDADE E QUE POSSAM TRANSGREDIR AOS ASSUJEITAMENTOS DO SURDO COMO INCAPAZ DE SENTIR E VIVENCIAR A MÚSICA. A EDUCAÇÃO NA/PELA INTERCULTURALIDADE PRESSUPÕE UMA ATITUDE DE ABERTURA DO SER HUMANO AO OUTRO, “NÃO COMO CONCEITO MAS COMO AÇÃO, MOVIMENTO” (MENEZES, 2008, P. 8). ESTE OUTRO, SEGUNDO SILVA (2000, P. 9), PRECISA SER VISTO COMO OUTRIDADE: “DEIXAR SER UMA OUTRIDADE QUE NÃO É OUTRA ‘RELATIVAMENTE A MIM’ OU ‘RELATIVAMENTE AO MESMO’, MAS QUE É ABSOLUTAMENTE DIFERENTE, SEM RELAÇÃO ALGUMA COM A IDENTIDADE OU COM A MESMIDADE”. DIANTE DISSO, QUANDO ENTENDEMOS A EDUCAÇÃO PELO VIÉS INTERCULTURAL, NOS AFASTAMOS “DE UMA PERSPECTIVA HOMOGENEIZADORA DA CULTURA E DOS SUJEITOS, RENUNCIANDO A UMA EDUCAÇÃO BASEADA E ESTRUTURADA EM TORNO DE UM ÚNICO MODELO DE CULTURA E DE SUJEITO” (MENEZES, 2008, P. 8). DESSA FORMA, A PRESENÇA DE SURDOS E OUVINTES NA SALA DE AULA REGULAR PASSA A SER VISTA COMO UMA DINÂMICA MÚLTIPLA, HÍBRIDA, FRONTEIRIÇA, SENDO ESSENCIAL QUE AS RELAÇÕES E AS PRODUÇÕES DE CONHECIMENTO SEJAM PENSADAS PELA INTERCULTURALIDADE, QUE É TAMBÉM UM PROJETO PARA A CONSTRUÇÃO DE MODOS “OUTROS” DE SABER, SER E CONVIVER, AO “ASSINALAR A NECESSIDADE DE VISIBILIZAR, ENFRENTAR E TRANSFORMAR AS ESTRUTURAS E INSTITUIÇÕES QUE DIFERENCIALMENTE POSICIONAM GRUPOS, PRÁTICAS E PENSAMENTOS DENTRO DE UMA ORDEM E LÓGICA” (WALSH, 2009, P. 24). EM VISTA DISSO, APRESENTAMOS, NESTE ARTIGO, EXPERIMENTAÇÕES COM A MÚSICA JUNTO A SURDOS E OUVINTES EM UMA ESCOLA REGULAR, ANALISANDO O QUANTO PODEM SER POTENTES PARA PROMOVER UMA EDUCAÇÃO NA/PELA INTERCULTURALIDADE, COM VISTAS A PRODUZIR OLHARES E RELAÇÕES OUTRAS COM O SURDO PELO VIÉS DA DIFERENÇA CULTURAL. PARA TAL ANÁLISE, FILIAMO-NOS AO CAMPO DOS ESTUDOS CULTURAIS EM EDUCAÇÃO, UMA VEZ QUE PROCURAMOS COMPREENDER AS PRODUÇÕES DOS SUJEITOS PELA LÓGICA DA INVENÇÃO, SENDO ELES PRODUTOS DE UMA PRÁTICA DISCURSIVA. “A CULTURA É UM CAMPO DE PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS NO QUAL OS DIFERENTES GRUPOS SOCIAIS, SITUADOS EM POSIÇÕES DIFERENCIADAS DE PODER, LUTAM PELA IMPOSIÇÃO DE SEUS SIGNIFICADOS À SOCIEDADE MAIS AMPLA” (SILVA, 2011, P. 134). POR ESSE VIÉS, A CULTURA NÃO É COMPREENDIDA COMO HERANÇA, MAS SIM COMO ALGO PRODUZIDO NAS RELAÇÕES E NAS EXPERIÊNCIAS DE VIDA. TAMBÉM APOIAMO-NOS NOS ESTUDOS SURDOS PARA PROBLEMATIZAR A PRODUÇÃO DA SURDEZ, ENTENDIDA COMO DIFERENÇA CULTURAL E LINGUÍSTICA. ESSES ESTUDOS SÃO PENSADOS COMO UM TERRITÓRIO DE PESQUISAS E POLÍTICAS QUE VIABILIZAM QUE OS SURDOS ESTEJAM INSERIDOS NUMA COMUNIDADE, COM IDENTIDADES E CONDIÇÕES LINGUÍSTICAS E CULTURAIS DIFERENTES DOS OUVINTES. AINDA, NOSSA ALIANÇA TEÓRICO-METODOLÓGICA ESTÁ VOLTADA À PERSPECTIVA PÓS-ESTRUTURALISTA, UMA VEZ QUE PERMITE OLHAR O MUNDO SEM UMA VERDADE ÚNICA OU SEM UMA FORMA PRIVILEGIADA DE ANALISÁ-LO (VEIGA-NETO, 2001), E SIM COMO UMA PORTA ABERTA À PROBLEMATIZAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES, DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE NOS SÃO DADAS COMO VERDADEIRAS E ESTÃO TÃO NATURALIZADAS NO CENÁRIO EDUCACIONAL. OS ESTUDOS INICIAIS SOBRE A MÚSICA FORAM MOBILIZADOS PELA PROBLEMATIZAÇÃO E PELO MOVIMENTO INTERCULTURAL PARA/COM O OUTRO. O GRUPO DE ESTUDANTES OUVINTES SE PERGUNTAVA COMO O COLEGA SURDO SENTIA E VIVIA A MÚSICA E, A PARTIR DISSO, DESEJOU TORNAR INCLUSIVAS AS APRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS DA ESCOLA. EM UMA DOCÊNCIA COMPARTILHADA ENTRE PROFESSORA E INTÉRPRETE, INICIARAM-SE EXPERIMENTAÇÕES COM A MÚSICA PELO VIÉS DA CULTURA SURDA, CONHECENDO, ATRAVÉS DO YOUTUBE, INTERPRETAÇÕES EM LIBRAS DESENVOLVIDAS PELA COMUNIDADE SURDA. TAMBÉM BUSCOU-SE DISCUTIR COM OS ESTUDANTES A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA MUSICAL NESSA RELAÇÃO INTERCULTURAL ENTRE SURDOS E OUVINTES A PARTIR DA EXPLORAÇÃO DO FILME “A FAMÍLIA BÉLIER” (2014). EM SEGUIDA, AS ESTRATÉGIAS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM UTILIZADAS CONTEMPLARAM A SELEÇÃO DE MÚSICAS CONFORME O GOSTO MUSICAL DOS GRUPOS E O POSTERIOR ESTUDO DA INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS. ESTE TRABALHO RESULTOU EM APRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS E TAMBÉM NA PRODUÇÃO DE VÍDEOS QUE FORAM COMPARTILHADOS NA ESCOLA. FOI POSSÍVEL EXPERIMENTAR A MÚSICA PARA ALÉM DO UNIVERSO SONORO, COMO UMA ARTE CAPAZ DE REUNIR OUTROS SENTIDOS, RECONHECENDO O CORPO COMO PRODUTOR DE SENTIDOS E SIGNIFICADOS JUNTO A LIBRAS. TAIS EXPERIMENTAÇÕES FORAM SIGNIFICATIVAS POR PROMOVEREM A INTERCULTURALIDADE ENTRE SURDOS E OUVINTES, MOSTRANDO O QUANTO A SURDEZ NÃO PODE SER VISTA COMO FALTA OU IMPEDIMENTO DE ALGO, MAS COMO UMA DIFERENÇA CULTURAL. OUTRAS CONTRIBUIÇÕES ENRIQUECEDORAS QUE PUDERAM SER VIVENCIADAS ATRAVÉS DE PRÁTICAS BILÍNGUES FORAM A COMPREENSÃO DAS MÚSICAS ESCOLHIDAS EM AMBAS AS LÍNGUAS, A AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO EM LIBRAS, O CONHECIMENTO SOBRE A GLOSA (ESCRITA DO PORTUGUÊS NA INTERPRETAÇÃO DA LIBRAS) E O EXERCÍCIO DA INTERPRETAÇÃO SIMULTÂNEA. AINDA, EM TODAS AS SITUAÇÕES DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM, FOI POSSÍVEL OPERAR A COOPERAÇÃO, REFORÇANDO A EDUCAÇÃO NA/PELA CONSTRUÇÃO COLETIVA, PELO SER/FAZER COM. POR FIM, O ARTIGO PROBLEMATIZA, A PARTIR DOS APRENDIZADOS ADQUIRIDOS COM A MÚSICA EM UMA SALA DE AULA REGULAR, A NECESSIDADE DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE FORTALEÇAM UMA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL ENTRE SURDOS E OUVINTES E, POR CONSEGUINTE, CORROBORA UM PENSAR E UM FAZER PEDAGÓGICO DE QUE A MÚSICA PODE SER PRODUZIDA E VIVENCIADA POR TODOS OS SUJEITOS.

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