RESUMO
O PRESENTE TRABALHO TEM COMO OBJETIVO APRESENTAR A PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE UMA ESCOLA-PILOTO DO DISTRITO FEDERAL SOBRE A MUDANÇA CURRICULAR EMPREENDIDA PELA REFORMA DO ENSINO MÉDIO. OS DADOS FORAM COLETADOS POR MEIO DE UM QUESTIONÁRIO ONLINE, ELABORADO NA PLATAFORMA GOOGLE FORMS E DISPONIBILIZADO AOS ALUNOS ENTRE OS MESES DE JUNHO E AGOSTO DO ANO DE 2020, QUANDO AS ESCOLAS JÁ SE ENCONTRAVAM NA MODALIDADE REMOTA EMERGENCIAL. A CONSTRUÇÃO E O ENVIO DO QUESTIONÁRIO FOI UMA INICIATIVA DO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO E DO NOVO ENSINO MÉDIO, DO QUAL FAZEMOS PARTE POR MEIO DO PROJETO DE EXTENSÃO “ACOMPANHAMENTO E ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO NA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS NO DISTRITO FEDERAL”. ESTE PROJETO BUSCA AUXILIAR NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS E COMPARTILHAMENTO DE IDEIAS SOBRE ESSE NOVO FORMATO CURRICULAR, CONHECENDO AS DINÂMICAS EXTERNAS E INTERNAS À INSTITUIÇÃO ESCOLAR E AUXILIANDO OS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PENSAR CRITICAMENTE AS PRÁTICAS DE ENSINO FRENTE A NOVA ESTRUTURA EDUCACIONAL.
ESTE TRABALHO SE CONCENTRA EM UMA ÚNICA PERGUNTA DO QUESTIONÁRIO; A SABER: “COMO VOCÊ ENXERGA O ENSINO MÉDIO ANTES E DEPOIS DA REFORMA?”. A AMOSTRA FOI COMPOSTA POR 72 ESTUDANTES DE UMA ESCOLA-PILOTO DO DISTRITO FEDERAL, PARA A QUAL O PERFIL TÍPICO ERAM AS MENINAS (72,1%) DE 15 E 16 ANOS (86,6%) E AUTODECLARADAS PARDAS (56,96%), EM SUA MAIORIA MORADORAS DA REGIÃO ADMINISTRATIVA DA ESCOLA (86%). AS RESPOSTAS À PERGUNTA SELECIONADA FORAM CLASSIFICADAS NAS SEGUINTES CATEGORIAS: A) PERCEPÇÃO POSITIVA; B) PERCEPÇÃO NEGATIVA; C) INDIFERENTES; E D) OUTROS. DOS RESPONDENTES, 41 (51,9%) FORAM ALOCADOS NA “PERCEPÇÃO POSITIVA”, DESTACANDO A FLEXIBILIDADE E O DINAMISMO NA ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDOS. SEGUNDO ELES (AS), A MUDANÇA CURRICULAR PERMITE A ÊNFASE EM INTERESSES PESSOAIS. EM CONTRAPARTIDA, UM GRUPO DE 7 RESPONDENTES (8,8%) FORAM ALOCADOS NA “PERCEPÇÃO NEGATIVA”. ENTRE ELES, OS PRINCIPAIS PONTOS ELENCADOS FORAM A DIFICULDADE COM O AUMENTO DO NÚMERO DE DISCIPLINAS E O TEMPO DE AULA REDUZIDO. UM OUTRO GRUPO DE 10 ESTUDANTES (12,6%) FORAM DEFINIDOS COMO “INDIFERENTES”, MOBILIZANDO ADJETIVOS COMO “REGULAR” E “NORMAL” PARA EXPRESSAREM AS SUAS PERCEPÇÕES. POR FIM, UM OUTRO GRUPO DE 10 ESTUDANTES FORAM CLASSIFICADOS COMO “OUTROS”, COMPARTILHAM A SENSAÇÃO DE ESTAREM PERDIDOS E CONFUSOS COM AS MUDANÇAS, AO PONTO DE ALGUNS DELES CONFUNDIREM A REFORMA COM O ENSINO REMOTO.
A PESQUISA DEMONSTRA QUE PARTE SIGNIFICATIVA DOS RESPONDENTES ESTÃO OTIMISTAS COM A REFORMA, O QUE PODE ESTAR ATRELADO A UM FORTE DISCURSO PRODUZIDO NO CAMPO MIDIÁTICO. ESSA HIPÓTESE SE REFORÇA COM O EXAME DAS RESPOSTAS, NAS QUAIS PODEM SER ENCONTRADAS A REPRODUÇÃO DOS CONTEÚDOS E DAS CATEGORIAS EMPREGADAS EM DEFESA DA REFORMA; COMO NOS SEGUINTES EXEMPLOS: A) “FOI UMA REFORMA QUE, APESAR DE SER VISTA COM MÁS OLHOS PELAS PESSOAS QUE SÓ OUVIRAM FALAR, FOI E É UMA REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO”; B) “ANTES ERA UMA COISA MAIS PADRONIZADA, AGORA PODEMOS INCLUIR NOSSOS INTERESSES”. ESSE ARGUMENTO DE UMA ADAPTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR A FIM DE TORNAR O ENSINO MÉDIO MAIS ATRATIVO AOS ESTUDANTES, COLOCANDO EM ÚLTIMO PLANO OS DEBATES SOBRE O ACESSO E A QUALIDADE DO ENSINO, NÃO SÃO PARTICULARES DO DISCURSO MIDIÁTICO E DE ALGUMAS RESPOSTAS DOS ALUNOS, MAS, COMO BEM PONTUA FERRETTI (2018), FIGURA ENTRE AS JUSTIFICATIVAS PRESENTES NA PRIMEIRA VERSÃO DA REFORMA: A MP 746/2016. ALÉM DISSO, CABE RESGATARMOS MICHETTI (2020), QUE, AO ANALISAR O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA BNCC, DEMONSTRA A IMPORTÂNCIA DE SE OBSERVAR OS MECANISMOS PELOS QUAIS UM PROJETO DE ENSINO NACIONAL ALCANÇA A LEGITIMIDADE, COLOCANDO EM CENA A IDEIA DE “ESTRATÉGIAS DE CONSENSUALIZAÇÃO”, QUE LANÇA OS NOSSOS OLHARES SOBRE OS FENÔMENOS DO PARTICIPACIONISMO E DA “OPOSIÇÃO CONSENTIDA” (FERNANDES, 1977).
REFERÊNCIAS
FERRETTI, C. A REFORMA DO ENSINO MÉDIO E SUA QUESTIONÁVEL CONCEPÇÃO DE QUALIDADE DA EDUCAÇÃO. ESTUDOS AVANÇADOS, SÃO PAULO, V. 32, N.93, P.25-42, 2018.
FERNANDES, F. A SOCIOLOGIA COMO CONTESTAÇÃO. EM A SOCIOLOGIA NO BRASIL: CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DE SUA FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO. PETRÓPOLIS: VOZES, 1977, P. 127-139.
MICHETTI, M. ENTRE A LEGITIMAÇÃO E A CRÍTICA: AS DISPUTAS ACERCA DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SÃO PAULO, V. 35, N. 102, 2020.