O sistema do bioágua familiar (SBF) é uma tecnologia social desenvolvida com intuito de melhorar a convivência das famílias agricultoras do semiárido brasileiro que sofrem com longos períodos de estiagem. A tecnologia possibilita o reuso da água utilizada na lavagem de roupa, louça e no banho chamada de água cinza ou água já consumida que é despejada nos quintais das casas favorecendo o surgimento de agentes patogênicos vetores de doença, poluição dos corpos hídricos, degradação do solo, mal cheiro e proliferação de mosquito. Com uma abordagem agroecológica e sustentável, a ciclagem da água cinza torna-se uma alternativa para o desenvolvimento rural descontaminando os quintais e os tornando produtivos. A partir desse conhecimento o presente trabalho tem como objetivo conhecer melhor a realidade das famílias agricultoras beneficiadas com a tecnologia do bioágua, conhecer quais as culturas alimentares produzidas de maneira agroecológica, o que consomem do que produzem e o que comercializam na Agrofeira (Feira territorial da Agroecologia e Agricultura Familiar ), realizada em Garanhuns, PE. Desta forma foi feita uma análise qualitativa e quantitativa na percepção do agricultor e dos consumidores antes e depois da implantação do sistema bioágiua familiar (SBF). Para isso como instrumento de coleta de dados utilizamos da entrevista semi estruturada com abordagem qualitativa e quantitativa de natureza básica a fim de que as análises se complementem buscando mensurar quantitativamente os dados obtidos dos produtos ofertados pelos agricultores e respeitando as experiências pessoais narradas pelos mesmos no qual participam do projeto Jucati Sustentável contemplados com a tecnologia social, e que comercializam seus produtos na Agrofeira. A partir das entrevistas e dados colhidos obtivemos resultados satisfatórios com relação a diversidade de cultivares produzidos para consumo e comercialização. Os agricultores relataram ainda aumento no desenvolvimento socioeconômico. A tecnologia do bioágua proporcionou que seus quintais se tronassem produtivos e com a garantia de produtos saudáveis e agroecológicos. Nota-se também que nos períodos de estiagem a produção era menor e consequentemente a redução na comercialização, porém a partir do bioágua os produtores perceberam que mesmo em período de escassez continua a produção satisfatória já que a água consumida ao invés de despejada ao ar livre é reciclada e disponibilizada por irrigação para as hortas podendo assim produzir o ano todo. Percebeu-se que inclusive, mesmo na estiagem se garantiu a continuidade da produção semanal para a Agrofeira onde ocorre a comercialização dos produtos. A água reciclada possui ainda altos teores de nutrientes fazendo-se desnecessário o uso de insumos externos para as cultivares. Diante dos resultados obtidos podemos concluir que o bioágua trouxe consideráveis benefícios aos pequenos agricultores da região árida e semiárida pernambucana que sofrem com a escassez de água e longos períodos de estiagem. Mostrou-se uma alternativa que contribui para a produção rural familiar de base ecológica e também no desenvolvimento rural em uma perspectiva social, econômica e ambiental.
Referências:
SANTIAGO, F. dos S. JALFIM, F. T.; DOMBROSKI, S. A. G.; GOMES-SILVA, N. C.;
BLACKBURN, R. M.; SILVA, J. K. M da; NETO, L. M.; VALENÇA, J. R. de F.; NANES,
M. B.; RIBEIRO, G. A. Bioágua Familiar Reuso de água cinza para a produção de alimentos
no Semiárido. Recife, PE, Projeto Dom Helder Camara 2012, 20 p.