Introdução: Ao longo da vida, o ser humano consome direta e/ou indiretamente inúmeras substâncias tóxicas, naturais e sintéticas, que podem gerar efeitos deletérios tanto nos ecossistemas quanto à saúde das populações expostas (POSE-JUAN; FERNANDEZ-CRUZ; SIMAL-GÁNDARA, 2016). Neste contexto, o município de Lajes Pintadas/RN, Brasil (LP), possui características geológicas particulares que podem influenciar negativamente na qualidade ambiental e, consequentemente, na saúde da população (CAMPOS et al., 2013). A análise de percepção de risco, além de ser o primeiro passo para entender as problemáticas de interesse ambiental e sanitário, torna-se um instrumento fundamental para subsidiar informações de interação mútua entre homem e ambiente no cenário a ser estudado. Objetivos: Este trabalho teve como objetivo avaliar a percepção da população de LP em relação à exposição a contaminantes ambientais, levando em consideração o cenário. Metodologia: Foram realizadas um total de 223 entrevistas com os residentes – crianças, adultos e idosos – da zona rural e urbana de LP a partir de um questionário semiestruturado com 70 perguntas. Nesta entrevista, buscou-se investigar aspectos sócio-demográficos, sanitários, de percepção ambiental e determinantes de exposição à contaminantes. Os discursos das questões abertas foram interpretados com base em análise de conteúdo. A análise inferencial foi realizada mediante a análise da distribuição de frequência por meio de tabelas de contingência utilizando o teste qui-quadrado. Os dados foram analisados por meio do programa SPSS Statistics versão 20. Resultados: Dentre os participantes do presente estudo, mais de 60% não possuem educação básica, e o nível de instrução mostrou ser um fator determinante na percepção dos riscos associada a uma determinada problemática ambiental (OR 13,84 / IC 95%: 1,76-108,61). Além disso, aqueles que residem em LP há mais de 30 anos apresentaram quase 2 vezes mais chances de identificar danos ambientais do que aqueles que estão no município a menos tempo (OR 1,78 / IC 95%: 1,00 - 3,21). Cerca de 40% são agricultores e 35% desempenham função do lar, sendo pesticidas e saneantes os produtos químicos mais citados em relação à exposição ocupacional. A geração de lixo e esgoto, poluição do ar por cerâmicas e queima do lixo foram os problemas mais citados. Mesmo assim, a percepção sobre a qualidade de vida em LP foi positiva, pois 70% afirmaram que se trata de um ambiente saudável para viver. Considerações finais: LP apresenta condições socioeconômicas que a torna vulnerável às problemáticas ambientais ali estabelecidas. Mesmo a maioria da população não apresentando conhecimento sobre a radiação natural, existe uma percepção clara da presença de um problema que está causando danos à saúde dos moradores. A análise do risco e desta percepção irá possibilitar o gerenciamento dos problemas identificados por meio da adoção de medidas mitigadoras que venham a minimizar os impactos à saúde de populações que residem em áreas com elevada radioatividade natural.
Referências:
CAMPOS, T. F. C. et al. O gás radônio e a radiação natural em terrenos metagraníticos e pegmatíticos?: o caso do município de Lages Pintadas ( Rio Grande do Norte , Brasil ). v. 26, n. 2, p. 45–52, 2013.
POSE-JUAN, E.; FERNANDEZ-CRUZ, T.; SIMAL-GÁNDARA, J. State of the art on public risk assessment of combined human exposure to multiple chemical contaminants. Trends in Food Science and Technology, v. 55, p. 11–28, 2016.