Este trabalho, parte constituinte de uma pesquisa de Doutorado em Geografia, é um estudo de caso onde se analisa a segurança hídrica de famílias rurais em Afogados da Ingazeira, Pernambuco (Nordeste do Brasil) – visando analisar como o acesso irrestrito e descentralizado à água nas comunidades rurais poderia impulsionar o desenvolvimento local, com base na convivência com o semiárido. Busca lançar um olhar de conjunto acerca do semiárido, onde o acesso descentralizado e universal à água é tema recorrente. Assim, ressalta-se que o espaço geográfico conhecido por semiárido nordestino brasileiro, para além de seu esplendor humano-paisagístico, consubstanciou-se como um lugar estigmatizado pela seca. Aí, a pungente dificuldade de acesso à água está atrelada ao trinômio escassez/estiagem/seca, que por sua vez se entrelaça e se contrapõem com a tríade armazenamento/semiaridez natural/gestão de políticas públicas, respectivamente. Nos últimos 30 anos, imbricado com o momento histórico da redemocratização nacional, se difundem e edificam copiosas práticas de absorção e compreensão da realidade dessa região, alicerçadas no conhecimento dos elementos naturais construídos a partir das experiências de seus habitantes e articulados pela sociedade civil organizada. Inicia-se o proeminente debate sobre o modelo dominante do combate à seca com o paradigma ascendente: a convivência com o semiárido. Os anos de 2012/2013 marcam uma severa estiagem sobre o Nordeste, expandindo ainda mais a discussão da premência das ações estratégicas e políticas públicas que permitiriam novas possibilidades ao sertanejo de coexistir sustentavelmente com o meio. Utilizou-se a metodologia das cinco linhas constitutivas de segurança hídrica no semiárido para o diagnóstico das situações. Os resultados obtidos demonstram que as políticas públicas e tecnologias implantadas no semiárido brasileiro, aliadas à ampla rede de articulações sociais, vêm constituindo possibilidades para segurança hídrica, exceto nos anos de grande estiagem.