Os estudos sobre tradução de literatura infanto-juvenil têm revelado que ao verter textos para crianças e adolescentes os tradutores levam em conta aspectos relacionados às normas da cultura de chegada criando um novo texto ajustado para atender a questões sociais, culturais e pedagógicas. Dessa forma, se interpõe à voz discursiva que figura no texto de partida, uma segunda voz, denominada por Theo Hermans (19996 a/b), como “voz do tradutor”. O‘Sullivan (2006) explicita que nas narrativas ficcionais o que se pode notar é a criação de um novo perfil de narrador, neste caso o narrador da tradução, o que modifica todo o esquema de comunicação narrativo. Este trabalho se trata de um estudo de corpus paralelo e pretende analisar através de um estudo das estratégias de tradução se a tradutora Clarice Lispector modifica ou mantém questões tabus, mais especificamente as eróticas e de violência, que figuram em Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift. Há, no texto, passagens que são comumente consideradas inadequadas para o público infanto-juvenil. É prática comum na tradução para tal público que estas partes sejam purificadas ou apagadas. Assim, nos deteremos em observar como tais questões são tratadas pela tradutora e quais as suas implicações no produto final. Constatamos na análise que, por ser uma escritora renomada, Clarice Lispector teve maior liberdade quanto à tradução de partes que continham cenas eróticas e de violência, mantendo-as na maior parte dos casos e enfatizando determinadas características das cenas.