Na enunciação do romance, os discursos são ora refratados, ora transfigurados através das várias vozes que compõem a heterodiscursividade do texto literário. Deste modo, autor, obra, e leitor se encontram nos sertões da linguagem a ler a realidade em sua complexidade. Diante disto, neste trabalho, buscamos analisar o encontro entre o erudito e o popular em meio ao heterodiscurso do romances A máquina voadora, de Bráulio Tavares (1994) e Romance d’A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta, de Ariano Suassuna (2005), que apresentam poéticas semelhantes, comuns à literatura pós-moderna, e representativas da hibridez entre os gêneros do discurso tidos como eruditos e populares. Para isto, recorremos aos estudos de Bahktin (2015), Canclini (1997), Tavares (2005), Santos (2009), Araújo (2013), Vassallo (1993), entre outros. Metodologicamente, partimos de uma análise estilística em literatura comparada, tratando-se de uma abordagem qualitativa de natureza descritiva e interpretativa. Com base nas reflexões destes autores, verificamos tanto no texto de Ariano Suassuna, quanto no de Bráulio Tavares, um sertão discursivamente híbrido, em que a linguagem científica é reestruturada através do discurso poético das poesias populares e dos causos intrinsecamente ligados ao espaço. O heterodiscurso da narrativa de Suassuna conduz seu leitor por um sertão místico em que o romance de cavalaria se mistura ao folheto de cordel, a partir do relato biográfico do narrador Quaderna, enquanto que, no romance de ficção científica escrito por Bráulio Tavares, as falas dos personagens, entrecruzadas pelos conhecimentos científicos e populares, dão voz a um espaço repleto de narrativas a se ressignificar dialeticamente pela cultura oral e escrita. Nessa direção, compreendemos os romances analisados como obras a demonstrar o entre-lugar da literatura contemporânea, ponto de encruzilhada de seus leitores, entre a linguagem popular e a erudita.