OLIVEIRA, Maria Anória De Jesus. . Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4440>. Acesso em: 28/12/2024 19:39
A literatura infanto-juvenil, em sua trajetória histórica, não ficou alheia aos fatores sociais e os expressou ao entrelaçar as linguagens verbais e a não verbais. Assim sendo, as ilustrações, os seres ficcionais (narradores e personagens, no caso), deixam fendas que nos levam a imaginar determinados espaços sociais e quem os habita. Se partirmos dos feixes de ação, à luz dos princípios de Vladimir Propp (1984), identificaremos o predomínio de caracteres predominantemente eurocêntricos nas narrativas tradicionais, ao passo que os demais, de origens indígenas e africanas foram preteridos e/ou desqualificados. Em consequência, muitos de nós crescemos internalizando tais padrões no campo da literatura, nos meios de comunicação e nos livros didáticos, grosso modo. Em se tratado das produções destinadas às crianças e aos jovens, a partir da obrigatoriedade de trabalharmos com a história e cultura afro-brasileira e africana em todas as áreas na Educação Básica (Lei 10.639/03) observamos que temas outrora silenciados no mercado editorial passaram a ter maior visibilidade ao se tornarem um filão fértil à comercialização. Tanto é que, nos dias atuais, é possível identificar uma quantidade significativa de obras que apresentam personagens negros nas capas dos livros e no desenrolar da trama. Alguns se restringem ao universo da pobreza e outros não mais, posto que o status socioeconômico elevado é evidenciados por meio das ilustrações e das relações familiares. Insurgem-se, também, negros personagens situados na diáspora e em espaços sociais africanos sem, necessariamente, serem reduzidos aos recorrentes estereótipos inferiorizantes. Nesses universos imersos em significações ressoam vozes da resistência por meio dos mitos dos Orixás, delineando-se crianças, adolescentes, adultos, seus dilemas, desejos, conquistas e embates sociais. Interessa-nos, desse modo, estudá-los, a fim de identificar indícios inovadores no tocante à história e cultura afro-brasileira e africana. Para tanto, realizamos a pesquisa bibliográfica e recorremos à crítica, à teoria da literatura e às contribuições das Ciências Sociais para respaldar o estudo. Destacamos, a princípio, algumas dessas referencias, a saber: Marlene H. Leites (2012), Maria Anória J. Oliveira (2003; 2010), Eduardo Assis Duarte (2011), Cuti (2010), Andreia L. Souza (2005), Aristóteles (2006), Stuart Hall (2003), Antonio Candido (1992), Beth Brait (1990), Sonia S. Khéde (1992) entre outros. Esperamos, por meio do presente estudo, contribuir para aguçar o nosso olhar face aos referidos seres ficcionais e aos espaços sociais nos quais são situados, primando-se por perspectivas culturais que contemplem as diferenças sem as restringir aos padrões ocidentais.