Algumas infecções parasitárias só recentemente foram descritas. É o caso de diversas doenças zoonóticas, que são próprias de determinadas classes de animais e eventualmente podem contaminar o ser humano, como helmintos do gênero Lagochilascaris, implicados como causadores de uma parasitose emergente e potencialmente grave. Na literatura, encontram-se descritas cinco espécies do gênero, sendo Lagochilascaris minor a única associada à infecção humana. No Brasil são observados mais de 90% dos registros de lagoquilascaríase humana mundial. As principais formas de contaminação são ingestão de carne, crua ou mal cozida de animais silvestres, contendo larvas encistadas do parasito e/ou ingestão de larvas infectantes juntamente com água de bebida contaminada com fezes de hospedeiro silvestre. A lagoquilascaríase é uma doença de evolução crônica cujo processo infeccioso pode persistir por vários anos, sobretudo quando o verme se aloja no tecido subcutâneo do pescoço, seios paranasais e mastoide. O parasita realiza autoinfecção no homem e isso leva a uma cronificação da doença durante vários anos. A migração do parasito, por meio dos tecidos, origina lesões secundárias próximas ou bem distantes do abscesso inicial, formando verdadeiros túneis nos tecidos comprometidos, demonstrando que o parasito apresenta intensa capacidade de lisar os tecidos dos hospedeiros definitivos. Apesar dos avanços na pesquisa científica, a maior parte dos profissionais em saúde das áreas endêmicas desconhece este parasito. É necessário o conhecimento para que sejam tomadas medidas no sentido de reduzir a contaminação dos ambientes, evitando assim a disseminação de parasitoses em animais e no homem.