O artigo discute, agora e na hora de sua morte, a influência normalizadora da vestimenta no corpo da travesti, ao qual é readequado em acordo com o sexo e performance de gênero designado ao nascimento, configurando-se enquanto violência social ao seu corpo e ao modo como entende-se o seu gênero. Partimos da experiência do velório de uma travesti e no que diz respeito ao modo como são construídas suas sensibilidades e memórias, enquanto um corpo fúnebre que foi vestido com roupas socialmente ditas masculinas, sem maquiagem e todos os signos designados ao gênero feminino, em sua construção social, ou seja, no intuito de normalizar o corpo contra as possíveis abjeções e provocar nela as confusões de sentido de um corpo que viveu sua identidade feminina enquanto travesti em oposição ao que é ditado pelos rituais de controle. Salientamos, assim, que as agências de controle, entre elas midiáticas, religiosas, familiares e sociais, por exemplo, corroboram para a adequação da vestimenta do corpo na hora de seu sepultamento, como uma forma de salvação e reordenação de um corpo visto como não naturalizado. Contudo, o levantamento encontrado pela pesquisa remetesse as vestes da travesti, bem como suas plasticidades: gestos, performances, vestes, cores, texturas, formas, etc. em detrimento de uma sociedade forjada pelas regras e condutas que as forçam a tornarem-se hegemônicas e homogêneas. Nesse sentido, refletimos sobre as ações unificadas das agências no controle sobre os corpos e suas autoplasmações, com intuito de legitimar/desumanizar o que devemos vestir ou não, bem como aqueles que deveram viver ou não.