A partir do arcabouço teórico-metodológico da Análise Dialógica do Discurso (BRAIT, 2014), este trabalho realiza uma análise transliguística da verbo-visualidade e dos sentidos que consolidam o tipo étnico e os discursos do vaqueiro no contexto da cidade de Morada Nova, Ceará. O referencial teórico está baseado na categoria da compreensão responsiva ativa ? consolidada ao longo das reflexões de Bakhtin (1986, 1993, 2003, 2010a, 2010b) e Bakhtin/Voloshinov (1993, 2002) ? e na categoria da verbo-visualidade ? baseada em Brait (2003). O objetivo do trabalho é compreender as estratégias enunciativas que marcam o processo singular de constituição do tipo étnico do vaqueiro contemporâneo em relação ao discurso que exalta a figura de um vaqueiro mítico, autêntico e trajado em suas vestes de couro. O corpus do trabalho é constituído pela intersecção entre as imagens de um vídeo sobre uma ?pega de boi no mato? e o hino do vaqueiro de Morada Nova. No caso específico de Morada Nova, a partir da análise do corpus é possível depreender que a verbo-visualidade das práticas e discursos enunciados concretamente pelos vaqueiros ajudam a constituir um tipo étnico afeito à lida do campo e cada vez mais heterogêneo. Os discursos enunciados pelos vaqueiros revelam que as transformações decorrentes da atividade econômica e cultural vivenciadas por uma sociedade que aprecia o ofício e o esporte da vaquejada são fatos originais. A título de considerações finais, é possível perceber que há uma insuficência de políticas públicas e de espaços de diálogo para garantir uma efetiva melhoria da vida do vaqueiro e a preservação do ambiente físico e cultural da vaquejada enquanto elemento situado e ressignificado por um processo de compreensão responsiva e ativa.