A linguagem é uma forma de interação e de ação social, mas também de exercício de violência. Sim, porque é nela que se discursivizam as ideologias. Assim, muitas formas de preconceito, de exclusão, de coerção e de violência são exercidas por meio da linguagem. Em particular, neste artigo, refletimos sobre como se exerce a violência em discursividades sobre o negro, ou seja, como uma violência simbólica e psicológica se efetiva pela linguagem, pelo discurso, e afeta o sujeito negro, porque atinge a sua dignidade humana, a sua essência como pessoa. Para isso, tomamos como corpus de análise discursos que circulam em dois domínios distintos: o literário e o esportivo, mas que se orientam por uma mesma perspectiva ideológica, como espaços de exercício da violência contra o negro. A discussão desenvolvida tem respaldo, principalmente, nos dispositivos teóricos da Análise do Discurso e da Sociologia da Linguagem. A metáfora estereotipada e racista que sugere a comparação do negro com o macaco foi colocada em obras clássicas da literatura brasileira e parece ter sido reatualizada nos estágios de futebol do país. Alteram-se os contextos, mas mantém-se a mesma prática rotuladora e discriminatória que utiliza a linguagem como contorno de exercício da violência sobre o negro.