As intersecções entre educação, ciência e tecnologia têm se tornado cada vez mais intrincadas e complexas nas sociedades contemporâneas. Compreender a concepção e as bases de cada um desses três campos, bem como as relações estabelecidas entre eles e também seus desdobramentos, apresenta-se, então, como um importante desafio para compreender aspectos centrais da formação humana. Conforme vêm apontando desde o século XX os autores da Teoria Crítica da Sociedade: a educação tem desempenhado um papel fundamental na pseudoformação cultural e na reprodução das desigualdades sociais vigentes; a ciência positivista tem sido erroneamente cultuada como expressão máxima da racionalidade humana; e o avanço tecnológico desenfreado parece ditar o ritmo reificado das sociedades atuais. Nesse contexto, faz-se necessária a investigação de instituições que atuem no desenvolvimento desses três campos (isoladamente ou conjuntamente) no sentido de se estabelecer uma crítica permanente que instigue a reflexão sobre os elementos contraditórios e regressivos imiscuídos na ideia de progresso suscitada frequentemente pela educação, pela ciência e pela tecnologia. A presente investigação objetivou estudar os fundamentos e concepções expostos nos principais documentos que norteiam a atuação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), apresentando e discutindo o entendimento institucional relativo à tríade que embasa suas ações, quais sejam: educação, ciência e tecnologia. Objetivou, também, perscrutar como a comunidade acadêmica de um dos campi do IFSP compreende o tratamento dado pelo IFSP aos termos focados nesta investigação, e suas inter-relações, no âmbito institucional perquirido. A justificativa desse estudo baseia-se, primordialmente, no diagnóstico das sociedades industriais e tecnológicas do século XX realizado, especialmente, por teóricos como Theodor W. Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse. Através da análise de documentos oficiais do IFSP e das contribuições de parte da comunidade acadêmica desta instituição, buscou-se expor e compreender quais pressupostos de educação, de ciência e de tecnologia norteiam as ações deste Instituto, bem como as intenções, as finalidades e as contradições manifestadas, e os desdobramentos evocados. Para tanto, foram analisados três dos principais documentos do IFSP: o Estatuto, o Regimento Geral e o atual Plano de Desenvolvimento Institucional. Também foi aplicado um questionário a 96 sujeitos integrantes dos três segmentos da comunidade acadêmica do campus São José dos Campos do IFSP. Dentre os questionários distribuídos, 86 foram respondidos e devolvidos (54 por membros do segmento discente; 14 por membros do segmento docente; 18 por membros do segmento técnico-administrativo). As análises documentais demonstraram a preponderância, no IFSP, de uma visão de educação regida pela profissionalização e pelo ensino tecnológico, sendo o trabalho destacado como princípio educativo. A ciência é veiculada como instância produtiva, e a investigação empírica é fortemente orientada para o desenvolvimento econômico de caráter industrial. No que tange à tecnologia, destaca-se o discurso do “desenvolvimento social” e do progresso. A análise das respostas contidas nos questionários identificou abundantes elementos que corroboram os dados encontrados nos documentos do IFSP. Ademais, tais respostas trouxeram, também, contundentes críticas à atual política institucional no que concerne ao tratamento da educação, da ciência e da tecnologia.