Partindo da percepção de que nossas interações são marcadas por alguma forma de intencionalidade e de que em nossos textos (falados ou escritos) ficam assinaladas algumas marcas de subjetividade em relação ao nosso interlocutor, este artigo objetiva apresentar uma análise dos elementos modalizadores no gênero entrevista. A entrevista, aqui analisada, foi coletada no site da Revista Nova Escola, em 2016, e a entrevistada foi Mirta Torres, pesquisadora argentina da área de Didática e Leitura. Para a confecção deste trabalho lançamos mão dos pressupostos teóricos postulados por Ducrot e colaboradores (1988), na Teoria da Argumentação na Língua, quando apresentam que a língua é, por natureza, argumentativa, e que na estrutura da língua há elementos que funcionam como a ossatura interna dos enunciados. Como teoria complementadora da Teoria da Argumentação na Língua, apoiamo-nos nos estudos desenvolvidos por Castilho e Castilho (1993), sobre o fenômeno da modalização, quando apresentam a classificação da modalização em três tipos, a saber: deôntica, epistêmica e afetiva. Ressaltamos que - ainda que tenhamos como ponto de partida os estudos empreendidos por esses últimos autores citados, bem como Koch (2002) e Cervoni (1989) - utilizaremos a revisão proposta por Nascimento e Silva (2012), a saber: deôntica, epistêmica e avaliativa. No tocante ao gênero textual entrevista, teremos como base os estudos desenvolvidos por Bakhtin (2000) e Marcuschi (2009), e esse gênero será visto como pertencente à esfera jornalística. A entrevista é percebida, ainda, como primordialmente oral e, enquanto evento comunicativo, objetiva obter respostas/informações, sobre determinados assuntos, da pessoa que está sendo entrevista. Com base nas análises empreendidas, registramos que houve um maior uso da modalização deôntica de obrigatoriedade, indicando que o leitor/interlocutor deve considerar o conteúdo da proposição como algo que precisa acontecer de forma obrigatória para se ter êxito em uma produção textual de qualidade, como assinala a pesquisadora Mirta Torres. Assim, pensando no ensino de língua, mais especificamente de produção textual, vimos que esses elementos tidos como “apenas gramaticais”, exercem função argumentativa, registrando, no enunciado, a forma como a entrevistada/locutor deseja que seu texto seja lido, comprometendo-se em diferentes graus com o conteúdo exposto, ou seja, a utilização de modalizadores do tipo deôntico nos revela como o locutor/escritor expressa sua avaliação e como ele almeja que o interlocutor/leitor reaja diante do que foi dito.