Neste artigo discuto o trajeto histórico das bichas pretas em nossa sociedade. Inicialmente problematizo a falta de trabalhos que problematizem as experiências de homossexuais masculinos negros no Brasil e a relação da pesquisa acadêmica com o fenótipo e com a orientação sexual dos pesquisadores e pesquisadoras. O conceito de interseccionalidade desenvolvido pela jurista negra estadunidense Kimbelé Crenshaw é peça chave nessa discussão por possibilitar um revezamento entre diversas áreas do conhecimento, como os estudos das relações étnico-raciais, os estudos de gênero e diversidade sexual, as teorias pós-estruturalistas e a obra de Michel Foucault. Utilizo os termos bicha e preto/a como categorias de análise por entender que potencializam o debate sobre raça e gênero, além de possibilitar que se questione a normatização presentes nas categorias homossexual e negro/a. Nenhuma categoria aqui debatida foi tratada como algo estático, fixo, cristalizado, numa oposição declarada às visões essencialistas que generalizam existências e desconsideram os múltiplos processos que as envolvem.