ARAGÃO, Jeane Lima et al.. Dissídios do desejo: amores queixosos, fantasias litigiosas. Anais V ENLAÇANDO... Campina Grande: Realize Editora, 2017. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/31475>. Acesso em: 07/11/2024 19:56
Desde exato o momento em que somos lançados no mundo, deparamo-nos com a inevitável dor do desamparo. Ainda que (re)elaborada pela cultura, esta dor acompanha o homem no curso de sua existência e o coloca ante a injunção de torna-se sujeito, ou seja, vir a ser capaz de assimilar e entender as leis e os interditos que regem as sociedades humanas. Na verdade, não há equívoco algum em se presumir que a entrada no mundo dos significantes implique uma barreira necessária a constituição psíquica do indivíduo, visando impedir que as pulsões mais primitivas do inconsciente encontrem concretude. Mas quando, por alguma razão, o sujeito busca ultrapassar a barragem imposta, o resultado será uma tentativa, fadada ao fracasso, de se ver livre dos grilhões que o prendem a linguagem a fim de (re)encontrar um gozo que, diga-se de passagem, está perdido desde sempre e para sempre. Este é o caso descrito na obra francesa da cineasta e dramaturga Marguerite Duras, O amante, publicado no de 1984. Na narrativa em foco, de caráter expressamente biográfico, a autora nos apresenta as reminiscências de sua infância e adolescência junto aos seus familiares: em um ambiente inóspito, a decadência econômica e moral de uma família mergulhada nas ambivalências de desejos edípicos recalcados são postas em cena. Por isso, nossa pesquisa, numa conexão entre os estudos psicanalíticos de base (pós)freudiana com a literatura, pretende investigar os indícios de uma (não) superação do Complexo de Édipo e seus correlacionados que permeia história de Duras.