Do rompimento que o projeto Malinowiskiano representou às formas ainda hegemônicas de interpretação da cultura dos povos “selvagens” até a eclosão de uma vigorosa prática etnográfica urbana, o devir da Antropologia se mostra sempre intricado. As abordagens metodológicas dos/as que se aventuram na interpretação de fenômenos identitários (sejam eles rurais, urbanos ou étnicos), se infiltram dentro de um plexo de conceitos que impingem à disciplina um lugar de relevo nas Ciências Sociais, sempre afinado com o enredamento das transformações em curso. O objetivo do presente artigo, é justamente promover uma reflexão sobre a abordagem que a Antropologia Social dispõe para o estudo de dois grupos de mulheres em específico: trabalhadoras rurais de assentamentos e produtoras rurais proprietárias de grandes latifúndios em Mato Grosso do Sul. Nesse sentido, é possível pensar nas particularidades que a Antropologia pautada no estudo das relações sociais de gênero - a Antropologia Feminista – pode oferecer. Tal proposição teórica, demonstra muita afinidade no entendimento desses grupos. Tanto trabalhadoras rurais assentadas quanto “produtoras” rurais proprietárias de grandes contingentes de terras, apesar de possuírem um “marcador social” facilmente identificado pelo fato de serem mulheres, certamente dispõem de trajetórias de vida, identidades e cultura diferentes entre si. Ao se estudar as reflexões tanto do conceito de interseccionalidade presente na Antropologia Feminista quanto das reflexões sobre as diferentes possibilidades de pesquisa permitidas pela Etnografia Contemporânea, é possível afirmar que ambas podem figurar como elemento norteador central de pesquisas focadas nas diferentes maneiras de distribuição de poder entre grupos de mulheres distintos.