O presente trabalho pretende apresentar uma sistematização provisória e parcial de uma pesquisa
em andamento e que possui por objetivo etnografar o coming out de mulheres lésbicas em uma zona
rural do interior do estado do Ceará. Especificamente, pretende conhecer de que modo as mulheres
vivenciaram a descoberta/construção de sua sexualidade homoerótica, os processos de
autoaceitação aí envolvidos e partir daí, como foram transformando suas relações de sociabilidade
nas diversas instituições e espaços sociais que ocupavam (família, emprego, igreja, lazer público,
pra citar alguns). Também pretende verificar como essas meninas pensam sua ação no sentido da
promoção de tensões sociais que desestabilizariam a ordem dominante se constituindo, deste modo,
em uma ação de resistência. Os dados parciais e provisórios apontam para a introdução das novas
tecnologias como meios facilitadores do processo de assumir-se lésbicas. Ao lado desta mudança,
ou mesmo imbricada nela, é possível perceber processos que reiteram ordenamentos patriarcais e
homofóbicos que podem vir a ser forjados no agenciamento família e igreja - duas das principais
instituições formadoras da juventude rural pesquisada - e que parece ser vetor de impactante
desestabilização nos enlaces sociais das mulheres pesquisadas, constituindo-se em um duplo
abandono familiar.