A dramaturgia do escritor português Bernardo Santareno (1920-1980) se inscreve em pressupostos literários pós-modernos, porque lida, sob diferentes perspectivas, com as questões de identidades e diferenças. No âmbito desse trabalho, em que utilizamos como corpus o texto dramático santareniano Vida breve em três fotografias (1979), debruçamos sobre os sujeitos representativos da prostituição viril e da homossexualidade, com o intuito de analisar as formas como são construídos na/pela linguagem dramática e em quais posições de sujeitos eles investem visando a alcançarem (ou não) inteligibilidade cultural e social. Uma vez que os homossexuais e os michês eram criminalizados no espaço simbólico lusitano, interessa, pois, não só discutir as questões de identidade, de gênero e de sexualidade inerentes aos sujeitos que compõem o mundo da prostituição masculina, mas também atentar aos processos e às relações de poder que os empurraram para as margens da sociedade. Para tanto, este trabalho encontra subsídios nos campos teóricos dos Estudos literários, dos Estudos Culturais, dos Estudos de gênero e sexualidades, atentando-se, é claro, às especificidades de tempo, espaço e às relações de poder que estruturam as questões de gênero, circunscrevem e possibilitam as constituições identitárias ligadas à homossexualidade e à prostituição viril.