Ao longo dos anos a Literatura tem se revelado como um campo de intersecções constantes e diálogos cada vez mais aparentes entre os diversos saberes/artes e a própria sociedade/cultura. Lima Barreto apresenta em Clara dos anjos (1948) os trânsitos entre a vida e a arte, ou entre os vários vieses da ficção e da sociedade. Clara dos anjos não só semiotiza as moças negras e pobres e os conflitos advindos das desigualdades sociais e dos problemas raciais no Brasil, mas também revela a linha evidente (ou clara) entre a literatura e as demais mídias, como, por exemplo, a música, expressa na importância das modas (cantigas) no trajeto da protagonista do Romance, ou, pelo menos, naquela que dizem ser a protagonista. É justamente por meio da relação entre Clara e a música, executada através do namoro da jovem com o conquistador (branco e rico) Cassi Jones, que Lima Barreto empreende, ainda no século XX, o processo de compreensão/defesa da pós-autonomia da Literatura. Nesse sentido, por meio de pesquisa bibliográfica, objetivamos, através das discussões acerca das questões de gênero e cor/raça da narrativa, analisar como a intermidialidade se apresenta na obra em questão, bem como, de que modo os diálogos entre as midiasferas abrem margem para a reflexão a respeito do ensino-aprendizagem da Literatura em sala de aula. Para tal, utilizaremos os conceitos de intermidialidade, de Justino (2015), de literaturas pós-autônomas, de Ludmer (2010), e os debates acerca das questões étnico-raciais e de gênero, em Salaini (2009) e Silva (2007), entre outros.