Neste trabalho, o objetivo é analisar a perspectiva narrativa no conto “Amor”, de Elisa Lispector, incluso no livro "O tigre de Bengala" (1985). Composta por 22 textos, essa obra é repleta de figuras femininas isoladas por circunstâncias como o divórcio, a viuvez, a doença, a incompreensão familiar, etc. O conto “Amor” apresenta esse mesmo tema, uma vez que a protagonista é abandonada pelo marido após uma tentativa frustrada de convivência no campo. Contudo, não nos voltamos para as temáticas da solidão e do exílio (aliás, discutidas pela crítica sobre a autora): chamamos a atenção para o procedimento narrativo usado nessa estória. O conto tem um caráter introspectivo, apresentando com nuances os conflitos da protagonista apesar de se valer de um narrador de terceira pessoa. Nesse sentido, mesmo com essa perspectiva, a narração permite que nos centremos na interioridade da heroína, em suas angústias e desenganos, e não na exterioridade das situações. O narrador oscila entre o que foi feito e o que foi sentido/pensado pela protagonista, por isso, apesar do foco, é um conto extremamente subjetivo, em que se nota uma intensa empatia narrador/personagem, ao mostrar como a carência desse afeto, o amor, move as ações das melhores pessoas, ainda que não as leve à felicidade. Como embasamento, nos valemos de teorias sobre a perspectiva narrativa e em trabalhos críticos (BOURNEUF & OUELLET, 1976; CANDIDO, 1968; GOTLIB, 2012; JOSEF, 1985; LEITE, 1993; WALDMAN, 2012).