Alguns temas abordados no projeto de extensão “Promovendo a saúde bucal, qualidade de vida e bem estar aos idosos assistidos pelo PIATI-UFCG”, do qual faz parte o autor do presente relato, remetem às doenças incidentes predominantemente nessa faixa populacional, bem como às implicações relativas à medicação, alimentação, entre outras, que são inerentes às patologias em questão. O presente relato surge da vivência de experiências bastante singulares acerca de trabalhos efetuados sobre hipertensão. Através da auto avaliação de saúde, também denominada de saúde percebida, que é a avaliação feita pelos próprios idosos de suas condições gerais de saúde física e mental (levando em consideração critérios pessoais, sociais e temporais) e exposta através de suas opiniões em discursos e rodas de conversa, por exemplo, podemos perceber diversos aspectos importantes de como os idosos entendem a doença e sua relação com ela.Um desses aspectos é a inquestionável visualização do interesse dos idosos em relatar seus casos particulares e compartilhar seu conhecimento com todo o grupo. A partir daí, é interessante perceber a influência que fatores socioeconômicos e educacionais exercem sobre os mesmos. Por exemplo, um depoimento interessante ocorreu quando um idoso afirmou que mesmo após ler em rótulos de produtos industrializados a existência de NaCl, ou cloreto de sódio, em sua composição, ainda que em altas concentrações, utilizava o produto mesmo assim, porque segundo ele o “doutor” havia restringido a ingestão de sal, mas não havia mencionado nada sobre cloreto de sódio. Tal depoimento deixa clara a influência do nível de escolaridade (baixo entre a maioria dos idosos) e a sua capacidade de entendimento geral, uma vez que para fins práticos “cloreto de sódio” e “sal” podem ter a mesma interpretação.Outro fato interessante, é a forte adesão dos idosos ao que é preconizado pelo “senso-comum”, podemos presenciar outra situação na qual diversos deles relataram que ao se depararem com um alimento muito “salgado”, adicionavam açúcar, a fim de “neutralizar” não somente o sabor, mas também os efeitos maléficos do sal. Essa interpretação de que sal e açúcar são substâncias opostas em sabor e antagônicas fisiologicamente é comprovadamente equivocada, porém, os idosos não relutaram em adotar tal conceito para si, uma vez que ele existe há gerações. Tais vivências nos levam à reflexão do quão é importante não somente a prática de medidas educativas, mas a adequação das mesmas ao público alvo, uma vez que inúmeros fatores (pessoais, culturais, educacionais) permeiam o diálogo, muitas vezes impondo barreiras subjetivas quilométricas entre o locutor e o interlocutor, dificultando o pleno entendimento da mensagem, sem dubiedades ou equívocos.