Newton Navarro representou várias áreas da cultura potiguar. Além de artista visual (atividade que o tornou mais conhecido, certamente pela repercussão jornalística e social obtida com suas incontáveis exposições no Estado e fora dele), foi jornalista e um requisitado orador, teve uma animadora inserção na vida teatral da cidade, como ator e dramaturgo, foi poeta, cronista, contista e chegou a publicar uma novela. Publicou Subúrbio do silêncio (1953), Abc do Cantador Clarimundo (1965), obra que o tornou o primeiro vencedor do “Prêmio Câmara Cascudo”, A caminho da cruz: a via-sacra (1956), 30 crônicas não selecionadas (1969), Beira rio (1970) e Do outro lado do rio, entre morros (1975), De como se perdeu o gajeiro Curió (1978), Um jardim chamado Getsêmani (1957), O solitário vento de verão (1961) e Os mortos são estrangeiros (1970). Com a publicação desses últimos, Navarro revela-se o iniciador da moderna contística potiguar. Ainda que alguns contistas nascidos em terras potiguares, mesmo vivendo fora, tenham chegado a publicar no mesmo período, a precedência lhe cabe. Este trabalho busca investigar as relações interdiscursivas existentes entre o conto “Sexta-feira da paixão”, que faz parte da coletânea Os mortos são estrangeiros (1970), do escritor norte-rio-grandense, e a narrativa bíblica, ou seja, analisaremos como o texto navarreano retoma (heterogeneidade marcada) os elementos do arcabouço mítico e cultural que circunscreve a tradição judaico-cristã e quais os significados que estes podem assumir no espaço intratextual.