Este artigo pretende acompanhar as relações dialógicas do Livro de Olinda (1982), de Jaci Bezerra, como a obra Olinda: 2.º Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira (1939), de Gilberto Freyre. Já se queixava o sociólogo pernambucano, no seu antológico Guia, que “nunca nenhum poeta brasileiro dos grandes cantou Olinda como Manuel Bandeira o Recife”. Talvez atendendo a este desejo do mestre pernambucano, Jaci Bezerra se tenha proposto a escrever o seu Livro de Olinda, estabelecendo um diálogo com o livro do próprio Gilberto Freyre: uma obra que se destinava a revelar, de maneira profusamente sentimental, como o título já anunciava, a história e os encantos naturais da primeira capital pernambucana, declarada, desde 1982, Património Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO. Mas se Gilberto Freyre se orgulhava de “ter adaptado à nossa língua e ao nosso país, tranquilamente sem dizer nada, um tipo de guia triunfante noutros países, especialmente nos Estados Unidos”, a exemplo do American Guides Series, o poeta Jaci Bezerra, captando a quintessência da linguagem gilbertiana — barrocamente tão prosaica, com as suas descrições pormenorizadas e ornamentadas de coisas, pessoas e fatos históricos, tão poética pela profusão de imagens —, constrói um painel não diacrónico: paisagístico, humanístico e simbólico da velha cidade brasileira, Marin D’Olinda de Pernambuco. Assim, a análise de O Livro de Olinda de Jaci Bezerra enriquece-se com a leitura paralela da obra Olinda: 2.º Guia Pratico, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira de Gilberto Freyre. Podemos, então, concluir que a obra gilbertiana é o texto com o qual o Livro de Olinda estabelece, com primazia, as suas relações de intertextualidade. Deste modo, a obra de Gilberto Freyre estaria para a de Jaci Bezerra como uma espécie de hipotexto, tornando-se um roteiro para a consumação do Livro de Olinda.