Este trabalho se propõe como objeto de pesquisa levantar cartograficamente os vestígios androcêntricos presentes nas performances de repentistas femininas. Para tal, investiga-se - a partir de um recorte histórico entre o final do século XIX aos dias atuais – a postura social e artística dessas repentistas, com base em registros presentes em (MOTA, 1987; CASCUDO, 2006; LUYTEN, 1981; RODRIGUES DE CARVALHO, s/d; SOUZA, 2003; SOBRINHO, 1990; SAUTCHUK, 2009; e SILVA, 2010), que tratam dos atos performáticos de Rita Macedo, no séc. XIX, a Maria Soledade, ainda em atividade. A partir das concepções de Foucault (1979, 1989, 2000 e 2003) e Bourdieu (1989), busca-se identificar os mecanismos de “docilização” e “domesticação” desses corpos femininos, que denunciem possíveis influências do universo masculino, predominante na cantoria. Para a concepção de performance nesta atividade artística, utiliza-se a teoria de Zumthor (2993), para quem o texto (poético) se apresenta como produção do corpo, do gesto, da voz, canalizando a teatralidade das antigas culturas às de nosso tempo. Neste sentido, questiona-se se o imaginário androcêntrico determinante no universo da cantoria tem a ver com a educação informal – sobretudo a sexual – da sociedade na qual essa manifestação está inserida. Da mesma forma, investiga-se como o corpo constitui uma linguagem funcional, um efeito – signo da sexualidade, após uma redução do simbolismo em nome do princípio linear de gênero delimitado, sobretudo pelos espaços performáticos em apresentações artísticas. As performances das repentistas pesquisadas apresentam-se marcadas por algumas estratégias, como, por exemplo: 1) tentar “desqualificar” a masculinidade do oponente homem; 2) buscar, de todas as formas discursivas, certa isonomia de gênero que se perfaz nas tentativas de se igualar ao homem nas performances do corpo e até no discurso. Tais processos de “docilização” e/ou “domesticação” apontam a um “controle do imaginário” dos corpos femininos em performance na cantoria, o que assinala um processo histórico de predominância do modelo androcêntrico nesta profissão e na educação desses corpos femininos.