As ciências biológicas têm relações ao longo da história com questões sociais controversas e, por vezes, sendo a via da validação para a marginalização social, delimitando e categorizando corpos e comportamentos como inferiores ou superiores, naturais ou patológicos. A normatividade de corpos e comportamentos de acordo com critérios sexuais biológicos redutivistas e essencialistas é um exemplo disso. Algo que aponta para uma relação entre ciência e valores, mais especificamente neste caso, valores cisnormativos. Como um cientista transmasculino nas ciências biológicas, acompanho essa questão de maneira dual: entre sujeito e objeto de pesquisa. Por ter transicionado durante minha trajetória acadêmica, conheci e re-conheci a academia. E é a partir desta posição que busco refletir sobre a possibilidade de encontros e emancipações. Parto de uma análise autoetnográfica unindo uma perspectiva teórica “de cima” - através da filosofia da biologia, teorias de ciência e valores e de referenciais transfeministas - à uma visão “de baixo”, baseada na minha experiência enquanto um cientista trans nas ciências biológicas. Minha análise, ainda em construção, é guiada pelos seguintes questionamentos: quais são os impactos e tensões da presença dos corpos e vivências trans no fazer científico das ciências biológicas? Quais possibilidades de reformulações epistemológicas fomentariam uma produção de conhecimento para além das limitações epistemológicas ciscentradas?