No âmbito das ações afirmativas, em seleções de concursos públicos, como procedimento complementar à autodeclaração de candidatas/os que se reconhecem como negras/os, as bancas de heteroidentificação operam no reconhecimento étnico-racial a partir de características fenotípicas. Características físicas como a cor da pele, o formato do nariz, a textura do cabelo e a espessura dos lábios são alguns dos traços observados pelos componentes das bancas durante a aferição. Do ponto de vista das/os candidatas/os, a experiência de passar pela banca de heteroidentificação pode ter implicações significativas face às suas (co/re)construções identitárias. A partir de nossas experiências pessoais, em uma autoetnografia enquanto mulheres negras, candidatas às vagas reservadas para cotas raciais, nas bancas de heteroidentificação pela primeira vez, percebemos, principalmente, que: i) os momentos que antecederam a aferição foram permeados de observações e de avaliações individuais silenciosas com base na alteridade; ii) durante a verificação da banca, emoções diversas operaram no proferimento de nossas autodeclarações enquanto mulheres negras; e iii) posterior à aferição, o deferimento de nossas declarações fortaleceu ainda mais nosso engajamento na pauta étnico-racial – no combate à discriminação racial e no comprometimento com uma educação antirracista. Nesse viés, acreditamos que o compartilhamento de nossas experiências por meio de narrativas possa estimular as mulheres negras a ocuparem espaços diversos na sociedade de forma responsável, a fim de que possam ser reduzidas as assimetrias históricas de gênero e de raça.