O artigo resulta de pesquisa de Doutorado com jovens Tremembé que concluíram o Ensino Médio nas escolas indígenas das aldeias de Almofala e Varjota, município de Itarema – Ceará e teve como um dos objetivos investigar o interesse desses jovens em ingressar na educação superior pública e gratuita. A pesquisa, aprovada pelo CEP da UECE com o Parecer nº 4.393.438 de 11/11/2020, foi concluída em 2022 e consiste em uma abordagem qualitativa que combinou pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas. As entrevistas foram realizadas de forma virtual, por videochamadas de WhatsApp, considerando o contexto da Pandemia da COVID-19. Foram entrevistados 26 (vinte e seis) do total de 88 (oitenta e oito) jovens que apresentavam até 29 (vinte e nove) anos de idade e concluído o Ensino Médio entre 2014 e 2018. A pesquisa fundamenta-se em estudos de pesquisadores brasileiros do campo da educação escolar indígena e nos aportes teóricos de Pierre Bourdieu, em suas assertivas sobre a harmonização entre sonhos e oportunidades objetivas. Observou-se que há interesse entre os jovens Tremembé em cursar uma “faculdade pública” e gratuita, embora a maioria que conseguiu acesso à educação superior tenha ingressado em cursos semipresenciais ofertados por faculdades particulares, nas proximidades das aldeias. Na percepção dos entrevistados, não haveria diferenciação na concorrência às vagas das instituições públicas e gratuitas que favorecesse os indígenas e, por esse motivo, eles abandonariam a ideia de fazer uma “faculdade pública”. O estudo concluiu que, apesar de existir um percentual de vagas para indígenas nos processos de ingresso às instituições de educação superior pública regidos pelo ENEM, os candidatos indígenas que concluem o Ensino Médio em escolas com currículos diferenciados são avaliados por um modelo de prova que toma como referência um currículo “universal” predominante nas escolas não indígenas do país, colocando os indígenas em situação de desvantagem nesse processo.