A fotografia chegou ao Brasil no século XIX, oportunizando famílias brancas e ricas a reproduzir o costume da elite europeia de montar álbuns de família. Esse também foi o período das primeiras fotografias de sujeitos negros vítimas do escravismo criminoso, onde suas imagens foram reproduzidas enquanto símbolos de subalternização. Com o passar do tempo, o direito à imagem, principalmente a narrativa contada por ela, ainda estava nas mãos dos mais privilegiados, vindo mudar apenas com a popularização do mundo digital, porém não de forma homogênea. Os álbuns de fotografias são materiais importantes e repletos de significados que atuam na manutenção da memória familiar, podendo nos reconectar com pessoas, territórios, momentos e principalmente afetos. Acreditando que as imagens trazem consigo suas próprias narrativas, questionamos: quais famílias podem podem narrar suas histórias? O que elas nos dizem? Quais histórias futuras são formuladas a partir do mergulho no emaranhado do tempo passado/presente? Este trabalho é formado por uma investigação artística autobiográfica que se debruçou sobre o acervo de fotos pessoais enquanto pessoa negra e de família afrodescente, buscando resgatar lembranças, significados, experiências sensoriais que esses arquivos evocam. A partir do estímulo dessas memórias foi proposto um exercício (através das técnicas de ilustração e colagem digital) de criação de novas poéticas, significados e relações estabelecidas pela conexão entre tempos e pelo espaço armazenado entre rememorar e o imaginar novas realidades a partir de si. O resultado nos mostra a forte presença da saudade, principalmente de pessoas, representada pela reaproximação através da intervenção artística. Outros pontos são o apego aos costumes, o afeto por lugares como a casa, a lembrança de cheiros que as fotos despertaram e o interesse de se ver no rosto de parentes próximos. Os sentimentos aflorados foram uma mistura de alegria, afeto e nostalgia.