Entre os grupos sociais classificados por cor e raça, os homens negros são os que apresentam a maior desvantagem de acesso e frequência ao ensino superior, segundo dados estatísticos oficiais. Essa desvantagem não se circunscreve somente ao ensino superior, sendo verificada também em outros níveis educacionais, estatisticamente são os homens negros os que menos concluem a educação básica e os que mais cedo deixam de frequentar a escola. Pesquisas teóricas sobre masculinidades negras apontam que é possível que a noção do que seja “ser homem negro”, os aproxime de práticas voltadas a uma exploração física e os afaste de carreiras e aspirações intelectuais, os afastando, portanto, da perspectiva de longevidade escolar. Entretanto, há homens negros que alcançam essa longevidade escolar. Este estudo interessou-se por mapear a trajetória escolar desses homens rumo ao ensino superior. Realizou-se, então, uma pesquisa empírica com homens negros, de camadas populares, egressos de escolas públicas, que alcançaram e frequentavam ou tinham concluído o ensino superior público. Visando compreender se e como a noção social de masculinidade negra influenciou seus percursos escolares e quais condições e condicionantes se apresentaram em suas trajetórias para que eles construíssem a perspectiva de ingresso em uma graduação pública e efetivamente ingressassem. Os dados mostram que chegar ao ensino superior não foi projeto de nenhum deles. As redes de relações, sobretudo a partir de docentes e de instituições educacionais, foram fundamentais para que tivessem informações e construíssem disposições para o ensino superior. Performances e destinos esperados para a masculinidade negra foram negados por eles, que incorporaram valores, discursos e práticas que os afastaram das performances e dos destinos comuns em termos educacionais para homens negros de classes populares, aproximando-os de carreiras longínquas de escolarização.