A decolonialidade é o nome dado a um movimento de pensamento que se concentra em questionar os paradigmas epistemológicos e cognitivos que constituem o pensamento ocidental dominante. O ensino da literatura nas escolas brasileiras e o currículo são dominados pelo apego ao cânone e aos momentos literários homogeneizados. A escola, os veículos da mídia, as bibliotecas e as academias literárias, dentro dessa perspectiva de dominação intelectual, atuam como mantenedoras e reprodutoras das relações de poder, em nível material e/ou epistemológico. É nesse sentido que este artigo propõe refletir sobre as práticas literárias desenvolvidas em algumas esferas sociais e de que forma elas têm compactuado para a propagação de um conhecimento eurocêntrico e colonializado. Neste presente artigo, deter-nos-emos na análise do conto “Tempo de ousar” de Daniel Munduruku com a proposta de refletir a partir do relato do autor sobre a visão decolonial e as relações imbricadas entre as visões de mundo entrelaçadas na narrativa. Partimos da hipótese de que apesar do empoderamento dos povos originários e de suas diversas produções científicas e literárias ainda não há um espaço amplo e intercultural. Para tanto, fundamentamo-nos na teoria decolonial (MIGNOLO, 2003; 2008, 2021; QUIJANO, 2010; BONIN, 2015); e nas noções de literatura (LAJOLO, 1989; PROENÇA, 1997; CÂNDIDO, 2011; MASSAUD, 2012). A nossa base metodológica é de cunho qualitativo, visto que consideramos a interpretação e as relações existentes entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Para tanto, faremos uso de trechos do conto para ilustrar o "silenciamento" e o processo de descolonização. Como resultados, destacamos os embates entre as visões de mundo e como o narrador-personagem é transpassado pelas relações hegemônicas. Para ultrapassar os limites dos pensamentos hegemônicos produzidos, é preciso desmistificar e desconstruir essas bases que silenciam produções de conhecimento derivadas de origens distintas das aceitas na ordem global.