A relação entre o falante e sua língua nunca é neutra. Existe um conjunto de atitudes, de sentimentos dos falantes em relação às suas línguas e àqueles que as utilizam (Calvet, 2002: 65). Em consequência, formam-se preconceitos e estereótipos com respeito às variedades linguísticas, avaliadas pela sociedade como prestigiadas ou como “as que devem ser evitadas”. Essa forma de pensar constitui um entrave ao ensino/aprendizagem de português como língua materna, uma vez que desmotiva os alunos detentores de falares considerados inadequados à comunicação. Por mais que a sociolinguística procure desmitificar essa posição, as conclusões dos estudos sociolinguísticos não têm chegado às salas de aula. Partindo desses pressupostos, objetivou-se investigar as crenças dos alunos e professores do Ensino Fundamental de Quissamã (município do estado do Rio de Janeiro) em relação à variedade do português que empregam, bem como sua avaliação dos dialetos da região. Pretendeu-se, com este estudo, oferecer contribuições para ações pedagógicas mais eficazes no sentido de anular falsas crenças e extinguir o preconceito que cerca o ensino de português como língua materna. Os dados para análise foram recolhidos na escola CIEP Brizolão 465 Dr. Amílcar Pereira, que conta com 1152 alunos – é a maior escola da região – utentes, em sua maioria, de variedades linguísticas não prestigiadas na sociedade. Para execução da pesquisa, no início do ano letivo, aplicaram-se a alunos e professores do CIEP dois tipos de questionários sobre suas crenças e características socioculturais. A análise das respostas aos inquéritos, resultados mostraram-se similares aos dos trabalhos de Barbosa e Cuba (2015) e Cyranka (2007). Os alunos creem que a norma-padrão é a única boa possibilidade de expressão, que existem modos de falar “mais bonitos do que outros”, além de manifestarem preconceito em relação à sua linguagem e à de seus colegas.