A forma de uma História e historiografia escritas sob um fio condutor cronológico-linear e eurocêntrica-ocidental é facilmente identificada em vários países do mundo. Por muito tempo, a ideia de que a História mundial fora escrita pela ação e intervenção dos povos europeus na África e no “Novo Mundo” e, consequentemente, a importância considerável que tiveram os grandes nomes, os heróis e os grandes personagens do “velho continente” se fizeram presentes em nosso imaginário e ensino (CARR, 1985). Todavia, a bem da verdade, desde a Revolução provocada pelos Annales, ganhamos a capacidade de criticar. Mas, hoje, não só criticamos, como realizamos uma nova forma de se ver e entender a História. Assim, nós trazemos de volta: as vozes, a riqueza e a cultura de povos e personagens escamoteados da escrita histórica euro-ocidental. Diante disso, com esse trabalho procuraremos evidenciar a cultura africana nas canções da Música Popular Brasileira (MPB) e, em consequência, apontar propostas e possibilidades de sua aplicação nas salas de aula do ensino básico. Tal proposta justifica-se, em primeiro lugar, por colocar em prática os cumprimentos da lei nº 10.639/03 que estipula a obrigatoriedade do ensino de História da África nas escolas públicas. Com efeito, em segundo lugar, em ampliar as opções didático-pedagógicas para o trabalho em sala de aula, procurando contribuir para o processo de crítica e “revisão” histórica e historiográfica do Brasil e do continente africano, visto a sua igual riqueza cultural, patrimonial, social entre outras quanto à dos países euro-ocidentais. Nesse sentido, as pesquisas feitas em torno das obras de Circe Bittencourt (2011) e Marcos Napolitano (2002) nos serviram de referencial teórico-metodológico e nos conduziram a escolha de duas músicas da MPB voltadas para essa temática e, consequentemente, para a possibilidade de sua aplicação na prática docente, a saber, Mama África (1995), do cantor e compositor Chico César e Morro Velho (1977), de Milton Nascimento. Assim, a partir dessas canções, verificamos a importância dessas músicas para o processo de ensino-aprendizagem, evidenciando as continuidades e/ou rupturas presentes na História e na historiografia, apontando, consequentemente, maneiras e/ou possibilidades de como elas poderão ser utilizadas em sala de aula pelo profissional docente.