A matemática é uma disciplina marcada por discursos que a concebem por seu extremo grau de dificuldade e consequente domínio por poucas pessoas. A mídia televisa, na figura dos apresentadores dos programas de entretenimento, também é responsável pela difusão de tais discursos numa enunciação que mobiliza determinados discursos atrelados a um modo de dizer. É a noção própria do ethos que é trazida à discussão: de sua instituição pela retórica aristotélica à sua abordagem discursiva, convergindo para a análise das relações enunciativas que são firmadas entre o locutor (apresentador) e o destinatário. O presente trabalho, que se constitui numa pesquisa de cunho documental, tem por objeto de análise o programa de TV “Passa ou Repassa” apresentado pelo comunicador Celso Portiolli no SBT e que traz semanalmente uma disputa entre alunos de duas escolas. Nessa perspectiva, tem-se por objetivo investigar, no discurso do apresentador, o ethos discursivo no tratar com a matemática, apontando seu reflexo sobre a imagem atual que se tem da matemática. Para isso, foram utilizados vídeos disponíveis no site Youtube de dois programas, voltando a análise para momentos em que a enunciação focava na matemática. A discussão foi feita à luz da noção do ethos retórico aristotélico em suas múltiplas acepções e sua incidência na análise do discurso, tendo ancoragem teórica em Amossy (2005), Maingueneau (2008), Charaudeau (2008), Pêcheux (1999) e Silveira (2000). A análise aponta para a percepção, no ethos do apresentador, de um caráter desafiador e de um intenso grau de dificuldade dado à matemática. Em sua enunciação, ele se coloca como o fiador desse amplo discurso sobre a disciplina, evidenciando, na atualidade, uma matemática carregada de crenças negativas quanto à sua compreensão e ao domínio de suas habilidades.