Com as políticas públicas para a democratização da educação escolar, a escola pública passou a ser constituída por um grupo discente mais heterogêneo, que por sua vez, trouxe para a escola um número maior de desafios profissionais em razão das suas necessidades educacionais (IMBERNÓN, 2010; 2016). Se antes a escola de Educação Básica tinha como principal função a preparação dos alunos para o ingresso no ensino superior, hoje, especialmente por força da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), é convocada a repensar sua concepção de ensino escolar e seu método de atuação, para assim atender o que está posto, por exemplo, pelo Artigo 2º dessa lei: "A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (BRASIL, 1996, p.1). Com essa função, a escola passa então a necessitar de professores com maior domínio de conhecimentos teóricos e práticos sobre três aspectos fundamentais: conhecimentos sobre uma área e/ou disciplina de estudo, conhecimentos sobre como o sujeito aprende e conhecimentos sobre como se ensina de forma intencional, sistematizada e institucionalizada. E ainda com base nesses três aspectos e por determinação da lei supracitada, o professor precisar saber também que, no exercício da docência, o foco da educação escolar deve ser na aprendizagem e que o discente necessita ser posicionado de maneira a ser capaz de atuar de forma protagonista sobre a sua própria aprendizagem escolar (IMBERNÓN, 2010). Tudo isso, obviamente, sem desprezar a ideia de equidade na educação escolar, também trazida pela atual LDB. Assim como discorre Tardif (2012), na atualidade a profissão de professor exige conhecimentos que vão além do saber e do aplicar um determinado conhecimento de forma estanque e pragmática. Ele precisa ter conhecimentos sobre como alguém adquire conhecimentos e como esse alguém adquire conhecimentos influenciado pela ajuda de outro alguém. Em outras palavras, uma coisa é ter conhecimentos sobre Biologia, por exemplo, outra coisa é saber usar esse conhecimento para atuar como biólogo, e outra coisa é ensinar esse conhecimento a alguém dentro da concepção de ensino-aprendizagem escolar que atualmente se concebe por meio dos diferentes documentos oficiais, legislação e diferentes publicações da área do ensino-aprendizagem da educação escolar. O ato intencional e sistematizado de ensinar pode facilitar a aprendizagem intencional do sujeito cognoscente, mas também pode dificulta-la, confundi-la ou atrasa-la. E essa dificuldade pode ser agravada quando se exige do professor, o atendimento a perfis muito heterogêneos de educandos (TARDIF, 2012), como, por exemplo, ocorre hoje na escola pública de Educação Básica e que vem se estendendo até a Universidade por força das atuais políticas pública de inclusão. Então, como essa aprendizagem vai se desenvolver, muito dependerá do domínio que o professor tem sobre os três aspectos supracitados. Considerando, obviamente, os aspectos relacionados às condições em que o ensino-aprendizagem escolar será realizado, o interesse e a capacidade de aprendizagem do aluno, já que este é um sujeito cognoscente que, assim como discorrem os teóricos cognitivistas e construtivistas, possui naturalmente capacidade de interferir em sua própria aprendizagem motora, efetiva e cognitiva. Assim como está posto pela Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015 para a formação docente, a formação inicial docente não pode ser somente um período em que o futuro professor passa adquirindo conhecimentos teóricos para serem transmitidos a um perfil de aluno previsto nos currículos oficiais, e que geralmente é concebido como o aluno ideal. Nesse período de formação inicial o licenciando precisa desenvolver domínio de uma área de estudo e domínio sobre o como ensinar, especialmente, sobre o como ensinar nas adversidades, já que o grupo discente, constituído por alunos ideais, concebido pelo currículo oficial, não existe (CANDAU, 2013). Tendo em vista as atuais necessidades educacionais oriundas das demandas sociais então, entende-se que é de fundamental importância conhecermos quem são os alunos de licenciatura. Qual terá sido sua motivação para a opção pelo curso. Quais são seus desejos, expectativas e quais são suas percepções e concepções frente à importante responsabilidade social que terão à partir do ato da colação de grau que lhes conferirá autoridade para o exercício legal da profissão professor em face ao contexto histórico, social, cultural e político que estamos a viver. São essas indagações que vem ancorando a justificativa e motivação para a realização dessa pesquisa. Em face do que aqui foi exposto, o presente artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de abordagem qualitativa, de objetivo exploratório e de procedimento classificado como levantamento, iniciada no segundo semestre de 2018, com o objetivo de conhecer expectativas de discentes de um curso de Licenciatura em Ciências Biológica de uma Universidade Federal brasileira. Para o levantamento de dados está sendo usado a técnica de entrevista semiestrutura, gravada, transcrita e analisada segundo a técnica de análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin. Os pesquisadores já ouviram trinta discente com idade média de vinte e três anos e que se encontram cursando diferentes etapas dos quatro anos que compõem o curso em questão. Os primeiros resultados dessa pesquisa vem mostrando que, na sua maioria, 80% desses discentes optaram pelo curso motivados pelo gosto pela Biologia durante o tempo em que cursavam o Ensino Médio, no entanto, somente 17% pretendem atuar na Educação Básica como professor de Ciências e Biologia. Na sua maioria, 70%, pretendem continuar estudando para se retornarem professores do ensino superior. É percebido que a maioria desses discente, apresentam tendência de não se reconhecerem como futuros professor de Educação Básica em processo de formação inicial, e sim, como futuros biólogos e pesquisadores. O estudo vem percebendo ainda que há uma certa tendência nesses discentes em perceber a profissão professor como uma boa profissão, mas não para eles, pelo fato do baixo status que essa profissão atualmente possui. Palavras-chave: expectativa profissional, educação, licenciatura, educação científica Referências BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2011. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da União], Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção I, p. 27.833. ______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos Jurídicos. Resolução CNE/CP nº 2, de 1 de julho de 2015. Diário Oficial [a União], Brasília, DF, 02 jul. de 2015. Seção I, p. 8-12. CANDAU, V. M. Educação em direitos humanos e formação de professores(as). São Paulo: Cortez, 2013. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. Tradução Silvana Cobucci Leite. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2010. ______. Qualidade do ensino e formação do professorado: uma mudança necessária. Tradução Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Cortez, 2016. TARDIF, M. Sabere docentes e formação profissional. Tradução Francisco Pereira. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.