Em março de 2018, a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) decidiu aderir ao Programa de Residência Pedagógica (RP) em virtude de se acreditar nos resultados positivos que ele poderá apresentar relacionados à Formação de Professores. Assim, este trabalho objetiva relatar a experiência inicial de implantação do RP na UEMA, a partir da contribuição dos autores que tratam sobre Formação de Professores e do olhar da gestão deste programa nesta Instituição de Ensino Superior (IES). Dentre os educadores que têm estudado sobre o campo da formação docente, Freire (1996), Nóvoa (2007 e 2012), Sacristán (2013) e Shulman (2014) afirmam que há muitos desafios sobre este assunto, dentre eles, que os professores precisam se apropriar de um conjunto de novas áreas científicas que são vistas como mais estimulantes das que serviram de base e fundamento para a pedagogia moderna; que os jovens professores precisam ser cuidados, apoiados, o que requer uma reorganização da profissão e da ideia do ofício; que a formação dos docentes deve ser mais centrada nas práticas e na análise das práticas; que os professores devem se comunicar mais e melhor com os jovens professores, que a experiência profissional docente deve ser valorizada; que a escola é também o lugar da formação dos professores e da análise partilhada das práticas; que haja diálogo entre as IES e as escolas; que as escolas sejam organizadas a fim de facilitar a formação mútua e colaborativa entre docentes e futuros docentes. Parece-nos que tais desafios coadunam com a proposta do RP, uma vez que o programa em questão visa aperfeiçoar a formação dos alunos dos cursos de licenciatura; induzir a reformulação do estágio supervisionado nos cursos; fortalecer, ampliar e consolidar a relação entre a IES e as escolas; e promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial de professores da educação básica às orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sendo este último objetivo, passível de muitos questionamentos. A partir do edital n. 06/2018 da Capes, a UEMA lançou três editais referentes à seleção de docentes e discentes da IES e de preceptores das escolas das redes públicas municipais e estadual do Maranhão. Neste período, e objetivando gerar aproximação e esclarecimentos sobre o programa, foram realizadas visitas às secretarias municipais e estadual de educação para planejar em conjunto as ações futuras. A seguir foram cadastrados no programa 10 (dez) subprojetos com envolvimento de 10 docentes orientadores, 240 residentes bolsistas, sendo 24 por subprojeto, 26 residentes voluntários, 30 preceptores e 15 escolas públicas, municipais e estaduais nos municípios de Bacabal, Caxias e São Luís. Posteriormente foram realizadas reuniões com os docentes orientadores da UEMA, secretarias e escolas para socialização de todas as etapas realizadas e planejamento das futuras ações. Em seguida foram realizadas duas etapas na preparação de discentes e professores das escolas públicas para o início das atividades deles no programa. Os docentes orientadores desenvolveram com os residentes bolsistas e voluntários atividades relacionadas à leitura de textos e discussão de temas relacionados à formação de professores. A seguir foram realizados dois cursos presenciais de formação de preceptores nos municípios de São Luís e Caxias, objetivando apresentar o programa e discutir com os preceptores temas relacionados à formação de docentes e à atuação deles junto aos residentes na escola e na sala de aula. Os docentes orientadores e preceptores estão desenvolvendo atividades com os residentes na ambientação destes na escola e na sala de aula. Posteriormente, serão elaborados os planos de atividades, seguidos da etapa mais longa denominada imersão na escola, incluindo ações de observação, discussão, reflexão, planejamento e regência de classe. Como esperado, diante do pioneirismo do programa, muitos desafios surgiram no transcorrer do trabalho até o presente momento e destacamos aqui seis destes. Houve forte resistência no processo de adesão de discentes e preceptores, pois apesar da política de pagamento de bolsas a todos eles e pontos positivos identificados, houve grande dificuldade em completar o quadro mínimo exigido pela Capes. Há resistência de docentes na IES de incorporar o RP como um programa que poderá gerar experiências exitosas para as instituições e atores envolvidos, considerando que o mesmo surgiu do Programa PIBID, de grande aceitação nacional e considerando a proposta de aproveitamento da carga horária total ou parcial para o estágio curricular obrigatório. Foi definido pela Capes um número mínimo de 24 residentes bolsistas por subprojeto, o que dificultou o processo de adesão. Há resistência de docentes na UEMA em aceitar o aproveitamento da carga horária do RP para o componente curricular de estágio obrigatório, pois não concordam com a proposta e em geral, desconhecem. A Capes definiu um pequeno investimento no custeio das atividades do RP durante o período de vigência, o que dificultará na execução dos planos de trabalho. Há resistência por parte da coordenação institucional do programa na UEMA em propor a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial de professores da educação básica desta IES às orientações da BNCC, uma vez que há críticas severas a esta política da educação básica. O modelo pensado pela Capes apresenta número elevado de residentes a serem acompanhados por um preceptor no ensino fundamental dos anos iniciais, o que dificulta o acompanhamento do preceptor e docente orientador, uma vez que não há rodízio de salas de aula neste nível de ensino, como ocorre nos anos finais e no ensino médio. Apesar dos desafios apresentados e alguns ainda não superados, acredita-se que o programa em questão será exitoso, uma vez que a IES tende a aprender com esta nova experiência; que os discentes terão mais tempo para observar, refletir, discutir e fazer regência na escola-campo com intervenções pedagógicas bem planejadas, preparando-se melhor para o mundo do trabalho; que o preceptor poderá ser auxiliado nas atividades pedagógicas na sala de aula e participará de formação continuada na IES; que os alunos das escolas públicas poderão ser beneficiados com uma melhor aprendizagem; que as escolas e as secretarias municipais e estaduais participarão como protagonistas no processo de formação de professores, diminuindo a distância entre as instituições formadoras de novos docentes; que a IES poderá planejar e acompanhar as ações dos discentes na escola-campo com maior eficiência e repensar os currículos e propostas pedagógicas dos cursos a partir das experiências ocorridas no processo. Referências FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. NÓVOA, A. Devolver a formação dos professores aos professores. Cadernos de Pesquisa em Educação. PPGE/UFES. Vitória, ES, ano 9, v. 18, n. 35, p. 11-22. 2012. ______. Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo. SINPRO-SP, 2007. Disponível em: http://www.sinprosp.org.br/arquivos/novoa/livreto_novoa.pdf. Acesso: 01 set. 2017. SACRISTÁN, J. G. (Org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013. SCHULMAN, L. S. Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma. Cadernos Cenpec, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 196-229, dez. 2014.